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Lula chora ao descer a rampa do Planalto e encerrar governo

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Brasília - Ao descer a rampa do Palácio do Planalto, de mãos dadas à mulher Marisa Letícia e à presidente Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva chorou. O ato marcou o fim dos oito anos de sua gestão e o início da gestão de sua sucessora e afiliada política.

Neste ato, o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva deixou para trás o governo que, antes mesmo de começar, teve de ser avalizado em 2002 por uma Carta ao Povo Brasileiro. Para acalmar o "deus mercado", que a essa altura estabelecia cada dólar valendo R$ 3,53, o documento fixava compromissos de crescimento econômico com estabilidade e de ampliação de políticas sociais.

Se no primeiro ano de seu governo o fracasso da marca Fome Zero tentava ser suplantado pelo vitorioso Bolsa Família, foi em 2004, pouco mais de um ano depois da posse, que os primeiros escândalos políticos começaram a tomar forma. Em fevereiro, um ex-assessor da Casa Civil, Waldomiro Diniz, teria cobrado propina de uma multinacional detentora da concessão para a exploração das loterias; em maio, o correspondente do New York Times no Brasil, Larry Rohter, foi ameaçado de ser expulso do País após escrever que o suposto hábito de o presidente beber tinha se tornado "preocupação nacional". Mas seria em junho do ano seguinte, 2005, o marco da maior crise política da era Lula: o mensalão, esquema definido pelo Ministério Público como o pagamento de propina à base aliada de parlamentares em troca de apoio em votações de interesse do Executivo.

O principal ministro do governo, José Dirceu, ruiu com o escândalo. Houve renúncias em massa de deputados mensaleiros, que buscavam se livrar de processos de cassação. Após a tempestade, no entanto, o governo voltava à normalidade com uma nova chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Pelo menos, até o próximo escândalo: a prisão em flagrante de pessoas comprando um suposto dossiê contra o então candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra. O estratagema, que deveria desidratar o PSDB e alavancar a candidatura do então senador Aloizio Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes, acabou por levar a disputa presidencial daquele ano ¿ um enfrentamento entre Lula e o tucano Geraldo Alckmin ¿ para o segundo turno.

A reeleição ainda seria garantida, embora o ano de 2006 tenha significado o estopim de um problema cuja solução foi obscura até o fim do governo lulista. O caos aéreo veio à tona com o acidente em que um Boeing da companhia aérea Gol se despedaçou no ar após colidir com um jato Legacy. O despreparo de controladores de voo foi apenas um dos problemas que chegaram a público. Um novo acidente, desta vez com a TAM em 2007, expôs mais um provável fator do caos: a falta de conservação e de preparo dos aeroportos.

A metade do segundo mandato de Lula começou com novo escândalo, o de gastos excessivos nos cartões bancários corporativos por integrantes do governo. Demissões, desculpas públicas e devolução de dinheiro foram as alternativas encontradas por ministros de Estado para dar vazão às acusações. Novos dossiês com dados confidenciais dos oito anos do governo FHC no mesmo ano e supostos outros levantamentos seriam negociados na campanha eleitoral de 2010.

No campo econômico, o Brasil, que desde 2003 havia optado por se fortalecer e diversificar os parceiros comerciais internacionais, se preparava para enfrentar as turbulências mundiais em 2009 com medidas de redução e desoneração de tributos para socorrer setores em dificuldade e ampliar o consumo e de criação de novas linhas de crédito. Desde então o agora ex-presidente Lula repetidas vezes disse que o Brasil era "o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela". Se o governo conseguiu contornar a crise dos subprime, ainda naquele ano viriam outro susto e uma desconfiança: o Brasil ficava às escuras em novembro, com 18 Estados sem energia elétrica pelo desligamento equivocado de três linhas de transmissão.

O ano de 2010, o último da era Lula, foi marcado pela escolha da candidata governista na sucessão: Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil. Com a expertise do presidente, que fazia comícios nos sábados como principal puxador de votos de sua escolhida ¿ e respondeu a inúmeras contestações judiciais por isso, o governante mais popular da história chegou a 87% seu nível de aprovação pessoal no fim do mandato confirmou a continuidade de sua gestão e, mesmo nos últimos dias à frente do Palácio do Planalto, sempre evitou usar a palavra "adeus".