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Convulsão social hoje teria consequências bem mais trágicas do que 1964

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Na acirrado momento político do Brasil, muitos analistas traçam paralelos com 1964, ano do golpe militar. A polarização, os protestos nas ruas, a mobilização de setores da sociedade em torno dos grupos adversários e a possibilidade de um presidente da República ser afastado alimentam as comparações. Mas uma análise detalhada sobre o perfil da população brasileira hoje e em 1964 acende o sinal de alerta a respeito do desfecho de um possível conflito social.

Em 1964, o país tinha cerca de 70 milhões de pessoas. Deste total, cerca de 45% eram jovens abaixo dos 20 anos, o que corresponde a aproximadamente 30 milhões de pessoas.

Hoje, o Brasil tem quase três vezes mais habitantes - 200 milhões. Deste total, 97 milhões têm menos de 30 anos, e nada menos de 68% - ou 136 milhões - são das classes C, D e E. Cerca de 20 milhões de pessoas têm 60 anos ou mais e são das classes mais favorecidas que, por terem acesso à saúde de qualidade, têm expectativa de vida mais elevada.

Na crise de 1964, a população mais jovens e de classe mais favorecida, girava em torno de 20 milhões. Hoje, com o elevado nível de desemprego, a instabilidade econômica e a revolta da população com a classe política, temos nada menos que 130 milhões de brasileiros entre os mais pobres, e nada menos que 97 milhões na faixa até 30 anos.

O que aconteceria ao país se esta imensa massa de descontentes, se este gigantesco número de brasileiros sofridos, que nada têm a perder - pois já perderam tudo - fosse às ruas cobrar os seus direitos? Os números mostram que, hoje, a população desfavorecida, que não tem acesso a escola, alimentação, saúde e segurança, tem proporções muito maiores do que a de 50 anos atrás. Por isso, as consequências de uma convulsão social hoje têm também proporções assustadoramente maiores do que o que aconteceu ao país em 1964. 

Mas os responsáveis por este estado dramático em que se encontra o país parecem ignorar, ou não dar importância, a isso.