ASSINE
search button

Para Janot, delator é colaborador. Para Odebrecht, é dedo-duro. Que país é este?

Compartilhar

Em sabatina no Senado, no dia 26 de agosto, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que há um “mal-entendido” sobre a colaboração premiada. “O colaborador não é um dedo-duro, não é um X9. O colaborador, pela lei, tem que reconhecer a prática do crime. Ele vem, confessa a prática do crime e diz quais são as pessoas que estavam também envolvidas na prática daqueles delitos”. Janot defendeu as delações premiadas, que, segundo ele, aceleram as investigações. “Investigação é tentativa e erro”, disse.

Na ocasião, Janot foi elogiado pelos senadores presentes, tratado com reverência e consideração.

Já o presidente da construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em depoimento à CPI da Petrobras em Curitiba (PR), nesta terça-feira  (1) disse que não pensa em colaborar com a Justiça por meio de delação premiada, chamando inclusive o delator de "dedo-duro". “Para alguém dedurar, tem que ter o que dedurar, o que não é o caso”, afirmou, acrescentando ainda que possui valores morais dos quais não abre mão.

Assim como Janot, Marcelo Odebrecht foi tratado com respeito, reverência e consideração pelos deputados presentes.

Analisando os dois cenários, ficam as indagações no ar: o que significa isso? Quem tem razão, Rodrigo Janot ou Marcelo Odebercht? Como parlamentares podem tratar com a mesma consideração e respeito autores de declarações tão opostas e contundentes? Como fica o povo?

Este é o Brasil que estamos vivendo: todos têm razão quando quem tem razão tem também poder. Quem não tem poder é delinquente. Não há quem os defenda.

O que é importante no Brasil? É ter poder, seja de que tipo for. A maior prova é essa. Janot diz que quem faz delação colabora com país. Já Marcelo Odebrecht afirma que quem faz delação é dedo-duro.

Afinal, houve ou não houve roubo na Petrobras? Enquanto os acusados de roubo, mesmo aqueles que roubaram 1% ou 2% do total usurpado dos cofres públicos, são achincalhados pela opinião pública, aqueles que lucraram 80%, 90% são elogiados.

Será que eles realmente têm razão, e Janot está errado?

Como fica o país? Como fica o povo? Como fica o pobre, que será sempre um "delinquente".