ASSINE
search button

A devolução do roubo e o cinismo

Compartilhar

Chega a ser excesso de cinismo o acordo de leniência anunciado na quarta-feira (19) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) com a construtora Camargo Corrêa, que concordou em devolver R$ 104 milhões. A ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, avaliou o prejuízo da estatal em R$ 88,6 bilhões, quando o dólar estava cotado a R$ 2,80. Agora, a empresa denunciada como corruptora devolve apenas R$ 104 milhões, com o dólar cotado a quase R$ 4.

Esse excesso de cinismo está permitindo uma desilusão perigosa para um povo sofrido, que amarga por essa corrupção, que agora é vergonhosa mas que sempre existiu. Como não se pode avaliar o corrupto e o corruptor, o crime de corrupção do passado e de hoje tem o mesmo efeito moral, só que hoje a crise mundial e a falta de investimentos da Petrobras, que representavam 60% de todos os investimentos brasileiros, agride mais ao nosso país e ao nosso povo. 

A autoridade não pode deixar de aceitar a devolução dos R$ 100 milhões de quem admitiu o roubo, mas se constata o cinismo quando o roubo acontecia com o dólar a R$ 2,80, ou menos, e a devolução do roubo acontece com a moeda americana quase 50% mais valorizada do que no momento do crime.

Em São Paulo, o maior estado do Brasil, mais rico, mais poderoso, onde os serviços de segurança são aparelhados com o que há de melhor em tecnologia sofisticada, mata-se por vingança. Quem mata é a polícia. Imaginemos todos se um dia essa revolta de vingança se alastra, por ver filhos mortos sem poderem ser atendidos por falta de dinheiro, por não poder andar na rua por falta de segurança. E a falta de segurança é porque o Estado não tem dinheiro porque foi roubado.

Quando todos esses direitos e regalias de um povo não puderem mais ser usados, o que acontecerá com o país se o povo também usar a vingança? A corrupção na Petrobras, no Brasil, e a apatia complacente da segurança pública do maior estado do Brasil, merecem urgente reflexão dos sociólogos e dos homens que têm poder.