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Afinal, quais são mesmo os países desenvolvidos?

EUA e Europa atacam Brasil, mas têm problemas muito mais sérios e dramáticos para se ocupar

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O racha entre o Ocidente e o Oriente vai além de simples divisões geográficas. Principalmente após a cisão do mundo durante o período da Guerra Fria, ambos os lados investiram em ações e contra-ações. Atos de terrorismo mancham a história mundial em uma crescente guerra de ódio. O mais recente caso foi o atentado à revista satírica francesa Charlie Hebdo por ter feito uma charge sobre o profeta Maomé – causando a morte de 12 jornalistas.

Já no primeiro ano do novo século, o XXI, a marca do terrorismo ficou sobre o Ocidente. O ataque orquestrado por Osama Bin Laden ao centro financeiro dos Estados Unidos significou a morte de mais de dois mil cidadãos. Dois aviões sequestrados por agentes da rede de terrorismo Al-Qaeda derrubaram as torres no dia 11 de setembro de 2001.  Em resposta, o então presidente George W. Bush lançou a campanha da Guerra ao Terror – uma política que embora tenha gerado desfechos como o fim do governo de Saddam Hussein sobre o Iraque, culminando nas eleições livres no país, continua até hoje na investida contra o Afeganistão. Os gastos da investida dos EUA são incalculáveis, milhares de vidas, dos dois lados. Ações e contra-ações. E apesar de todo o aparato tecnológico, de todo investimento e do avançado serviço de inteligência, os EUA demoraram longos 10 anos para localizar e matar Bin Laden.

Em 2004, na Espanha, um ataque com bombas a uma estação de trem resultou em 200 mortos e 1.500 feridos. O dia 11 de março ficou marcado na história europeia como o maior ataque desde a Segunda Guerra Mundial. Inicialmente a culpa do atentado em Madri recaiu sobre os separatistas bascos do ETA, mas logo em seguida evidencias mostraram uma possível relação com a organização fundamentalista Al-Qaeda. 

No ano seguinte, a capital inglesa também foi alvo de um ataque muito semelhante ao espanhol. Uma série de bombas explodiu em três trens do metrô e uma dentro de um ônibus. As quatro explosões combinadas deixaram 50 mortos e 700 feridos. O resultado da ação contra a capital – que é considerada o berço do capitalismo moderno – foi a união do exército inglês ao americano na incursão contra o Iraque.

Uma das situações mais novas de terror pelo qual o Ocidente passou foi o atentado na maratona de Boston, em  abril de 2013. Às 14h50 no horário local duas bombas explodiram a cerca de 170 metros uma da outra matando três pessoas e ferindo 170. Os suspeitos foram identificados: Tamerlan Tsarnaev, 26, morreu durante uma troca de tiros com os policiais, já Dzhokhar Tsarnaev, 19, foi preso cinco dias depois do ataque. Ambos possuíam origem muçulmana.

Nos países árabes, o caos parece ainda maior. Uma onda revolucionária de manifestações, batizada de Primavera Árabe, foi detonada em 2010, com revoluções na Tunísia e no Egito, guerra civil na Líbia e na Síria; grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental. Chefes de Estado foram depostos, tumultuadas eleições convocadas, suspeitos julgamentos realizados, sem contudo que a democracia pareça realmente ter sido implementada.

Se países do Oriente sofrem com ditaduras, os grandes e mais ricos países do Ocidente não enfrentam apenas ataques terroristas, mas também seus próprios inimigos internos. Escândalos de corrupção, escândalos de amantes, prisões e renúncias figuram as seções de notícias.

Pouco depois de ter assumido o governo da França, em 2012, François Hollande ganhou destaque por ter sua vida íntima exposta por sua ex-mulher. No livro Merci por ce moment, uma coletânea de escândalos foi escrita e publicada durante o período conturbado da separação do casal em 2014. Ao longo das 320 páginas, Valerie Trierweiler acusa Hollande de não ser sincero em sua relação com os pobres. A ex-jornalista informa que o presidente chama os mais pobres de “desdentados” em seus círculos pessoas. Vale lembrar que o presidente foi eleito e sempre afirmou não gostar dos ricos. "Ele apresenta-se como um homem que não gosta dos ricos. Mas na realidade o presidente não gosta dos pobres. Ele, homem de esquerda, fala em privado nos 'desdentados', muito convencido de seu senso de humor", informa um trecho veiculado na mídia francesa.

Na Espanha, os escândalos na alta cúpula também não são novidade. "Decidi colocar fim ao meu reinado e abdicar da coroa", disse o rei Juan em junho de 2014. O monarca abdicou de sua posição como rei da nação espanhola em favor do seu filho, por causa de denúncias de corrupção. "Felipe, herdeiro da Coroa, encarna a estabilidade que é sinal de identidade da instituição monárquica". Por anos um escândalo de corrupção envolvendo a filha do rei, a princesa Cristina, e seu genro, esteve para ser julgado. Sete meses depois da renúncia do rei, a princesa foi indiciada. Ela e o marido, Iñaki Urdangarin, são acusados de um desvio de 6,1 milhões de euros do dinheiro público.

Em Portugal, escândalos políticos e econômicos também se multiplicam. Em novembro deste ano, o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça após denúncia de fraude fiscal qualificada, lavagem de dinheiro e corrupção. O membro do Partido Socialista (PS), que governou de 2005 a 2011, tornou-se o primeiro ex-líder na história da democracia portuguesa a ficar em prisão preventiva.

No campo econômico, Estados Unidos e Europa também vivem suas grandes mazelas. Em 2008, os EUA detonaram uma crise global que levou para o buraco financeiros instituições, empresas e cidadãos. Até hoje o mundo tenta se recuperar deste baque, com a recessão e o desemprego batendo à porta da Itália, Espanha, Portugal, Grécia, entre outros.

Aliás, escândalos e crises financeiras não são novidades na Europa. Um dos exemplos aconteceu em 1995: o Barings Bank - banco de investimento mais antigo de Londres, fundado em 1762  - entrou em colapso quando um dos empregados, Nick Leeson, perdeu US$ 1,4 bilhão em especulação.

Com todo este cenário complexo, de crises, de terror, de morte e de fracassos, os países desenvolvidos, os mais ricos do mundo, os que são dotados de sofisticados esquemas de inteligência e segurança, ainda dedicam páginas de seus noticiários para atacar o Brasil. Apontam sua artilharia contra a Petrobras, contra o mensalão, contra nossas instituições, criticam nossa administração, nossa organização, nossa economia, enquanto se afogam nos seus próprios escândalos, enquanto não conseguem sequer impedir que seus jornalistas sejam fuzilados em plena luz do dia, e em seu local de trabalho, por indivíduos que inclusive já vinham sendo investigados. Brasil tem seus problemas, mas conduz sua política externa de forma pacífica e preza pelo diálogo.

Europa e EUA têm problemas muito mais sérios, muito mais profundos e muito mais dramáticos, e é deles que devem se ocupar.