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No jogo entre empreiteiras e dinheiro público, quem perde é o povo

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Com seus principais executivos presos e finanças afetadas pela Operação Lava Jato, a empreiteira OAS está tomando medidas contra a crise interna. O corte de custos e a demissão de funcionários foram algumas das primeiras medidas. A empresa também tenta vender bens, como dois jatinhos, e renegocia débitos com credores. As informações são da Folha de S. Paulo.

De acordo com a reportagem, a empreiteira tem uma dívida de R$ 7,9 bilhões, metade dela em dólares. Depois que a Polícia Federal prendeu o comando das grandes construtoras, os bancos passaram a dificultar a concessão de crédito aos envolvidos na Lava Jato. 

Entre as obras tocadas pela OAS estão o aeroporto de Guarulhos e o metrô do Rio. Ainda segundo a reportagem, para financiar sua meteórica expansão - nos dois últimos anos a empresa cresceu mais rápido do que os concorrentes - a OAS levantou dinheiro no Brasil e no exterior. Um relatório para investidores de um banco internacional afirma que a OAS "já mostrou sua habilidade de levantar dinheiro" com o governo. No ano passado, fez negócios de R$ 1,2 bilhão com o fundo de pensão Funcef (dos funcionários da Caixa Econômica) e com o FI-FGTS (fundo de investimento administrado pela Caixa).

Agora, em crise, as primeiras medidas a serem tomadas são o corte de custos e as demissões. A reportagem diz que, segundo os concorrentes, a empresa teria dispensado milhares de operários em todo o país. Ou seja, a empresa toma dinheiro público, é acusada de corrupção envolvendo a maior estatal do país, e quem paga o pato, no final, é o povo.

Como se não bastasse este triste ciclo que sangra os cofres públicos e pune os inocentes - os trabalhadores que perdem seus empregos -, há ainda o derrame nos fundos de pensões. Outra reportagem desta sexta-feira (19), desta vez no Valor Econômico, mostra os preocupantes déficits deste setor nas empresas estatais. Vale lembrar que os fundos, como foi o caso da OAS, muitas vezes são usados em negócios com empreiteiras.

De acordo com reportagem do Valor, pelos menos 50% do déficit da indústria de fundos de pensão brasileira vem de planos de previdência de empresas estatais. A Caixa Econômica Federal deve começar a fazer aportes extras em um de seus planos em breve, e os Correios terão que aumentar as contribuições adicionais que já faz desde 2013.

Os fundos de pensão que estão no negativo têm um déficit de R$ 27,6 bilhões, segundo os últimos dados da Previc. Só as fundações dos funcionários da Caixa (Funcef), da Petrobras (Petros), do BNDES (Fapes) e dos Correios (Postalis) têm juntas planos que somam déficits de R$ 14,6 bilhões, de acordo com a reportagem do Valor.  

Vale lembrar que a Funcef é a mesma que fez negócios com a OAS. Novamente surge o ciclo que vai punir, no fim das contas, o povo. Afinal, os fundos servem justamente para garantir a aposentadoria dos trabalhadores.

Fica a pergunta no ar: por que, no caso das empreiteiras acusadas, o montante roubado não é ressarcido aos cofres públicos com o que sobra ainda em mãos dos ladrões? Por que seus patrimônios não são desapropriados ou sequestrados? A título de exemplo, neste momento de grave crise envolvendo as empreiteiras, o presidente da Camargo Correia - uma das empresas acusadas na Operação Lava Jato que investiga corrupção na Petrobras - segue morando em Londres, distante dos escândalos. 

Como se não bastasse, o cenário econômico é preocupante. Em tempos de dólar nas alturas a economia fica inviabilizada, e a inflação galopa. Mais uma vez, quem sai perdendo é o brasileiro. 

O prejuízo não é mais só do Brasil via Petrobras. Já atinge o próprio Brasil em sua total amplitude. Em ciclos que se repetem ad infinitum, que ligam dinheiro público, financiamentos, empreiteiras, estatais e corrupção, a ponta mais frágil e vulnerável, que é o povo, é o que mais sofre. E o ladrão escapa com seu bolso intacto.