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Políticos podem se transformar em 'cortina de fumaça' para empreiteiros

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Nos próximos dias serão revelados, em nova fase da Operação Lava Jato, nomes de políticos envolvidos no esquema de desvio de dinheiro na Petrobras. A divulgação é fundamental para esclarecer os detalhes da roubalheira, mas deixa no ar também alguns questionamentos importantes: por que anunciar agora estes nomes, às vésperas do Natal e do recesso parlamentar? Por que não aprofundar neste momento a divulgação de informações sobre os empreiteiros, os corruptores que movem a engrenagem do desvio de dinheiro público e permanecem como eixo central do esquema há décadas e décadas?

A divulgação, neste momento, dos nomes dos políticos joga uma cortina de fumaça nas acusações contra os empreiteiros. Aliás, neste promíscuo esquema envolvendo poder e empreiteiras que se perpetua há décadas no Brasil, os únicos que permanecem os mesmos são os empresários. Os parlamentares mudam de acordo com o momento político. Agora, os empresários sumirão do noticiário como num passe de mágica, dando espaço a parlamentares que permanecerão no olho do furacão até o fim do recesso e, quem sabe, avançarão por muitos meses de 2015. 

Os executivos das empreiteiras acusadas cairão num conveniente esquecimento, e esta manobra não acontece por acaso: uma empresa especializada em marketing, que tem em sua estrutura mais de 50 importantes jornalistas e entre seus clientes as mais importantes empreiteiras, age nesse sentido. Com seu poder de influência em segmentos da mídia, ela seleciona os bandidos da vez (geralmente políticos) para saciar a sede de justiça da opinião pública. Neste momento, um de seus clientes, que se encontra no exterior, está sofrendo investigação sigilosa na Operação Lava Jato. Resta saber qual vai ser a reação da mídia quando seu nome vier à tona.

O enriquecimento ilícito dos corruptores investigados na operação Lava Jato deve atingir a inacreditável soma de 5 a 6 bilhões de dólares. Além de lesarem os pequenos empregadores, causam um prejuízo incalculável ao país, à sua imagem e credibilidade.

A desculpa de que o Brasil "vai parar" se as empresas envolvidas no escândalo forem atingidas e que haverá desemprego, não cola mais. Isso é apenas chantagem para que os empreiteiros não tenham seus bens sequestrados. O JB publicou artigo no dia 11 de dezembro no qual esta preocupação fica clara: 

"Me assusto quando ouço a pergunta irônica e canalha: "Se tomarmos deles, se desapropriarmos eles, quem vai trabalhar, quem vai produzir?"

E eu fico pensando: será que esse cínicos podem fazer  essas afirmações imaginando que esses executivos, ou donos de empresas, alguma vez tiveram um dedo cortado ou um olho furado ou, no fim do dia de trabalho, tiveram que se lavar com detergente para tirar o óleo do corpo?

Executivos para essas empresas é o que não falta no Brasil, e nem fora do Brasil.

O que não podemos permitir é o que está acontecendo: roubaram, construíram ou compraram palacetes no exterior, seus empregados são demitidos, voltam para a cesta básica ou morrem de fome, e nós, donos da Petrobras, a Petrobras, o Brasil e o povo brasileiro perderemos de novo? É assim? Eles, os receptadores que roubaram, ficam mais ricos e nós, o povo, a Petrobras, que é do povo, somos prejudicados? A Justiça vai permitir que os roubados percam ainda mais do que já perderam para esses ladrões receptadores?"

E neste domingo, o jornalista Elio Gaspari também expressou esta preocupação em seu artigo A chantagem da petrorroubalheira: 

"O argumento segundo o qual a investigação das petrorroubalheiras pode parar obras, gerando desemprego, é chantagem. Em alguns casos, as empresas já estavam quebradas, em outros, não haverá jeito. Botar dinheiro nelas é remunerar o ilícito. Se as doutoras Dilma e Graça Foster começarem a trabalhar hoje, esse mal pode ser remediado.

Basta mostrar que a Viúva poderá avançar no patrimônio das empresas e dos seus doutores. O Brasil não é a China, mas o companheiro Xi Jinping está fazendo exatamente isso. Primeiro ele limpa o ladrão, depois manda-o para a cadeia. Um dos empreiteiros já está vendendo os cavalos do seu haras. Em vez de tirar dinheiro do Fundo de Marinha Mercante para financiar estaleiros virtuais, depenam-se os ladrões (pessoas físicas e jurídicas) para evitar que eles depenem os trabalhadores."

Os bens desses bandidos devem ser confiscados e os cofres públicos devidamente reembolsados. Dinheiro não falta aos empreiteiros envolvidos em falcatruas.

Graça Foster

Paralelamente a tudo isso, é preciso que a presidente da Petrobras, Graça Fortes, faça uma reflexão sobre o momento da estatal e sua permanência no cargo. Não está em jogo sua honra e sua trajetória. Estas são inatacáveis e inquestionáveis. Mas é preciso lembrar que a Petrobras possui importantes negócios também no exterior. A legislação dos Estados Unidos, no artigo 10A do código de conduta, é clara com relação a administradores que simplesmente são acusados. Basta sofrer uma acusação para não poder mais assinar documentos. Como se não bastasse, um escritório de advocacia nos EUA entrou com um processo contra a Petrobras em defesa de acionistas.

Num momento de patriotismo, Graça Foster deve repensar sobre os efeitos de sua permanência no cargo, numa fase tão delicada para a gigante Petrobras.