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Os corruptores são o cupim da moral de um país

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A Operação Lava Jato vem tendo uma condução exemplar por parte do procurador e da equipe que está na diligência. A firmeza, a correção e o cuidado nas investigações são um marco na história do país. Há uma certeza de que os vazamentos não partem do Judiciário e nem do Ministério Público. 

A Operação Mãos Limpas, na Itália, ou a atuação do juiz Baltasar Garzon, na Espanha, também revolucionaram a mídia e a história destes países.

Contudo, como houve claramente uma prevaricação por parte de algumas autoridades contra poderosos corruptos, 20 anos depois vemos um cenário diferente: na Itália, há um presidente deposto e com claro envolvimento em grandes negócios com gás, óleo e comunicação, e ainda supostamente envolvido num caso de pedofilia.

E na Espanha, o partido franquista (PP), que está no poder depois de desbancar o partido socialista  que se envolveu em grande caso de corrupção, vê surgir uma nova oposição. O 'Podemos' mostra a insatisfação da população, que deposita no jovem e carismático Pablo Iglesias, de 36 anos, a esperança de um futuro melhor. Iglesias confirmou recentemente sua liderança ao ser eleito secretário-geral do partido com 88% dos votos. Professor de Ciências Políticas da Universidade Complutense de Madri, ele comanda uma mistura do Movimento 15-M, dos “indignados”, que saíram às ruas em 2011, e um partido de comunicação de massa. 

Iglesias foi membro das Juventudes Comunistas. Militou no movimento antiglobalização e tem uma formação política bolivariana, venezuelana e equatoriana. O que mais surpreende nessa liderança é que é de um jovem num país com idade média de 60 anos. Este fenômeno mostra o quanto a população está insatisfeita com os rumos do país, e cobra uma mudança.

O que se vê, na realidade, é que mesmo ações contundentes resolvem pouco quando se prende apenas trombadinhas. É preciso prender os tubarões. Os corruptores são o cupim da moral de um país. É este que tem de ser atacado.

Nesse processo Lava Jato, duas coisas podem desviar o conceito da limpeza, permitindo os focos de cupim:

Primeiro - Há uma preocupação de alguns patriotas que dizem não bloquear ou sequestrar os bens e as empresas dos corruptores com medo da crise e a falência deste setor. Mas o que se vê é que se protege a empresa, e esta mesma empresa que desmoraliza um país, uma nação, um povo, demite seus empregados sem pensar nas consequências familiares. Provoca uma falência humana dos seus funcionários.

Hoje, em uma dessas empresas, mais de 400 engenheiros foram demitidos. Em outra, mais de 200, e em outras, outros tantos profissionais foram desligados. Esta é a falência humana, física.

Enquanto isso, seus patrões, os capos, continuam com seus aviões, helicópteros e super motos para levar os corruptos para jogar em Las Vegas, quando sediados em outro país.

Na crise de 2008, o governo dos Estados Unidos não hesitou em fazer uma intervenção no sistema financeiro, que era o verdadeiro responsável pela crise das bolhas - insuflou o consumo e depois não conseguiu pedalar a grande bola que vinha contra os que pedalavam.

O governo dos EUA simplesmente deixou quebrar dois bancos e fez a intervenção no símbolo do capitalismo e do sistema financeiro: o Citibank. Fez também interferências na Enron e deixou quebrar a seguradora AIG, que depois foi estatizada.

Segundo - Causa estranheza a declaração do procurador-geral da República sobre os presos (A gente ainda vai pegar esse dinheiro. Hoje são cerca de R$ 700 milhões bloqueados [dos empreiteiros]. Se as empreiteiras vierem [fazer delação], nas cláusulas do acordo, vamos colocar a exigência para a construção de presídios. Nós vamos ter licitação para construir? Não. Eles vão me dar é 'in natura'.)

O produto do roubo das empresas servirá para construir presídios? Os presos proprietários de empresas são mais responsáveis que os corruptos. O corruptor sempre é um mal maior. Devem ir para cadeias comuns, pois educados, instruídos - muitos com formação no exterior - deveriam participar da vida de muitos daqueles que estão ali sem nunca ter tido o privilégio de uma educação.