ASSINE
search button

A Copa, o Catar, a corrupção e as passeatas

Compartilhar

A denúncia feita pelo jornal britânico Sunday Times, neste domingo (1), dando conta da existência de um sistema de propina e compra de votos na eleição do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022, pode provocar o cancelamento da escolha do país e obrigar a realização de um novo pleito.

As Federações de Austrália e Japão, que tentaram e não conseguiram o direito de organizar o Mundial, estariam pressionando a Fifa.

A reportagem do Sunday Times apresentou documentos mostrando que Mohamed Bin Hammam, ex-presidente da Confederação Asiática do Futebol e membro do Comitê do Catar para a Copa, pagou 3 milhões de euros (R$ 11,3 milhões) em subornos a dirigentes da Fifa para contar com seus votos na eleição para sede do Mundial-2022. Os documentos foram apresentados ao promotor Michael Garcia, chefe do Comitê de Ética da Fifa, que agora vai avaliar as denúncias até o dia 9 de junho.

A denúncia traz à tona, mais uma vez, as práticas nebulosas da Fifa, entidade bilionária e que se vê constantemente envolvida em casos obscuros. E, em meio a este mar de lama que parece não ter fim, a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014 ganha ares também duvidosos. O escritor Andrew Jennings, em seu livro Um jogo cada vez mais sujo, relata que Joseph Blatter teria entregado a Copa do Mundo para Ricardo Teixeira, pelo fato de estar na hora certa de "pagar favores".

A tudo isso, junta-se o fato de o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, também ter sido escolhido para sediar a Olimpíada, em 2016. Uma candidatura que custou R$ 100 milhões entre lobbies e produção para a apresentação da cidade.

O universo de homens engravatados, negociatas, reuniões e acordos, que toma conta de entidades que comandam o esporte no mundo, parece estar a uma distância abissal do verdadeiro espírito esportivo, que prega a ética, o respeito e a dignidade. A Olimpíada e a Copa se distanciaram de suas origens, deixando evidente que o esporte se transformou num grande negócio. E só.

Por tudo isso, não é de surpreender que os protestos estejam tomando conta do "país do futebol". A população que vai às ruas em passeata não está contra o esporte, mas sim contra o que ele se transformou: uma triste competição entre os mais espertos, mais sujos e mais gananciosos.