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Na páscoa, não podia faltar hipocrisia e traição 

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No dia em que tantos sofriam devido a política habitacional do Rio de Janeiro, o mundo inteiro reuniu a família para celebrar a Páscoa. Em frente à Catedral do Rio, ainda permanecem os ex-moradores do prédio da Oi, expulsos de forma truculenta, cadastrados em sua maioria nos programas do governo municipal, mas ainda sem solução para o abandono do poder público. A Páscoa é uma das datas comemorativas mais importantes do calendário e, como lembra o vereador Renato Cinco, a situação dos que ficam à mercê da política carioca só fica ainda mais triste num dia como este. 

No Domingo de Páscoa, os sem-teto da Oi poderiam estar recebendo um tratamento nem melhor nem pior, mas, sim, digno, dos poderes do Rio de Janeiro. 

A Páscoa remete à "A Longa Caminhada até a Liberdade" feita há 3.300 anos, como chamava Nelson Mandela e como ressalta texto do rabino Pessach. Ele aposta no que diria ao grande faraó Ramsés II: "Ramsés, tenho boas e más notícias. A boa notícia é que um povo que existe hoje ainda existirá daqui a milhares de anos. A má notícia é que não será o seu. Será aquele grupo de escravos lá fora, trabalhando na construção de teus grandes templos, o povo que você chama de habiru e hebreus."

De acordo com a Bíblia, Jesus, aos doze anos de idade, foi levado a Jerusalém por seus pais para a celebração da Páscoa. Posteriormente, participou desta celebração em Jerusalém a cada ano. A última ceia que participou com seus discípulos em Jerusalém, pouco antes da cruz, foi a refeição da Páscoa. Para os cristãos, a Páscoa tem o propósito de lembrar a salvação em Cristo e da redenção do pecado e da escravidão a "Satanás".

A longa caminhada dos ex-moradores da Favela da Telerj, como ficou conhecida a ocupação do prédio da Oi, parece ainda sem data de término. Para o vereador do Rio de Janeiro, Renato Cinco (Psol), a situação dos que agora estão sem teto reflete o "desprezo total pelos direitos das pessoas", já que a moradia é um direito fundamental básico no Brasil. 

"As famílias ficam a mercê dos interesses da especulação imobiliária. Temos mais residências vazias do que famílias sem residência. E isso é uma questão mais de respeito à lei do que de investimento. Numa data como essa, fica tudo ainda mais triste. Milhões de famílias estão aproveitando e outras ficam sem direito nenhum, nem o direito de protestar elas têm reconhecido", destaca Cinco. 

O vereador do Rio Paulo Pinheiro (Psol) destaca que se a questão do prédio da Oi tivesse sido resolvida da maneira como estava combinado, a situação poderia ser diferente. Ele avalia que a política habitacional do Rio é "muito ruim" e lembra que muitas outras pessoas estão sem moradia na cidade. "A prefeitura cadastrou vários desses ex-moradores do prédio da Oi, mas sem oferecer nada efetivamente. Só cadastrar não resolve o problema." 

A solução, indica, é a prefeitura do Rio reavaliar a sua política habitacional. Com os manifestantes expulsos da frente da Prefeitura e agora acampados em frente à Catedral, ele completa: "A própria igreja católica se sente constrangida, mas o problema não é a da Igreja, quem tem que fazer alguma coisa é o governo. A política de remoção do governo não é correta."

O Jornal do Brasil espera que as autoridades - que souberam tão bem serem fotografados ao lado de Sua Santidade, o Papa Francisco, talvez para que pudessem aparecer ao mundo como os responsáveis pela Jornada Mundial da Juventude, da qual, inclusive, não tiveram nenhuma participação, pelo contrário, atrapalharam bastante, a saber o terreno que indicaram para receber a programação e que afundou com a chuva, frustrando a comunidade local que tinha expectativas de que aqueles dias pudessem oferecer alguma recompensa aos seus pequenos negócios - deem uma resposta. 

O JB espera que esses senhores possam dar uma solução de respeito à dignidade humana, como gostaria e satisfaria a sua Santidade o Papa Francisco, que eles tanto cortejaram, imaginando faturamento político. 

A providência tomada pelos responsáveis pela Catedral foi de respeito ao pobre, dando a eles todo o amparo que estão dando, como nestes últimos dias. Ontem, inclusive, quando prenderam um sem-teto, a igreja intercedeu imediatamente soltando o cidadão. Mas nada disso poderia estar acontecendo.

A proteção da casa de Deus é muito mais importante que a proteção das casas das autoridades, que vivem cercadas de policiais para que em momentos de revolta não sejam atacadas. A casa do então governador Sérgio Cabral teve policiamento ostensivo por mais de três meses, quando manifestantes acamparam na Vieira Souto, mas sem poder ficar na porta do governador. Na casa do prefeito, aconteceu a mesma coisa. Em um casamento realizado no Rio de Janeiro, um batalhão da Polícia Militar marcou presença para que os manifestantes não invadissem a igreja. Já a Casa de Deus pode ficar abandonada de policiamento do jeito como está...

Esta situação não poderia ter chegado onde chegou. As autoridades deveriam saber que esses senhores se deslocavam para lá e poderiam ter impedido, fundamentalmente, por ser uma semana tão importante para os católicos do Brasil e do mundo.