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Opinião - Arrastões e saques

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Um jornal carioca, de grande circulação nacional, destaca em sua edição de hoje a seguinte manchete: “Despreparado, Rio fica refém das chuvas e terá AJUDA para conter saques e arrastões”. A preocupação no Rio de Janeiro hoje, onde os índices de criminalidade aumentaram em todos os níveis, encontra na questão da segurança o grande problema do momento, a ponto da grande imprensa destacar a necessidade de mais ações contra a violência, ao invés de abordar o despreparo dos administradores da cidade por transformar o Rio num grande buraco de obras. 

O articulista do jornal Folha de São Paulo, Bernardo Mello Franco, na edição de hoje (12) destaca em seu artigo que “Eduardo Paes, o prefeito da vez, tem repetido a prática de antecessores: gasta muito com obras de maquiagem e investe pouco no combate às enchentes. No ano passado, prometeu acabar com as cheias na Tijuca e na Praça da Bandeira, outro problema ancestral do Rio. O sistema de reservatórios deveria estar pronto, mas já atrasou duas vezes. Agora, a promessa da prefeitura é acabar com as inundações em 2014. Alguém acredita?”.

E o prefeito aconselhou à população que não trabalhasse. E os que adoeceram ou morreram por impossibilidade de locomoção? Qual conselho que o prefeito pode dar para as famílias dessas pessoas? Qual conselho que o prefeito pode dar para os que terão seus pontos cortados por total falta de condições de chegar ao trabalho? E o que ele pode dizer aos que tinham pagamentos para fazer, honrar com suas obrigações, e não puderem chegar aos bancos e que terão que pagar juros e multas?

O Ministério Público tem obrigação de apurar como foi construída a Via Binário sem o escoamento de água e que por isso causou tantos transtornos a milhares de pessoas que tentaram passar pelo local e, inclusive, colocando em risco a vida delas. Inaugurada há menos de dois meses, a Via – uma das principais do novo Complexo Portuário – ficou intransitável.

O Jornal do Brasil em seu editorial desta quarta-feira (11) ressaltou o despreparo da cidade para as chuvas intensas de verão que alagam, ano após ano, vários bairros e vias, ao mesmo tempo em que a população acompanha obras faraônicas, com orçamentos biliardários que não atendem à população, ou em que poucos podem usufruir, como o atual Maracanã, que não tem mais torcedor de baixa renda e foi reformado só para os ricos. Hoje (12), o JB lamenta novamente, mas dessa vez pelo fato das autoridades terem corrido para pedir ajuda ao governo federal contra saques e arrastões ao invés de pedir ajuda para os desabrigados, mortos e feridos. Tudo um problema de preferência.

Não há mais dúvida que todos dão preferência no Rio para os saques e arrastões, não só o das ruas, mas também os dos grandes palácios da cidade. O articulista da Folha, com certeza teve vontade de encerrar seu belo artigo, não com a frase “Vá trabalhar, prefeito!”, mas sim com outra frase que dá nome a uma música de Chico Buarque e que também inspirou um filme nacional.