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Os black blocs e a escuridão do nosso momento político

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Eles chegam tarde da noite, vestidos de preto e com rostos cobertos, formam um único "bloco sombrio", disposto a pôr abaixo tudo o que simbolize o que eles não reconhecem ser ordem e poder. A expressão black bloc define esta massa que vem cada vez mais fazendo parte da rotina dos movimentos sociais. Não tem bandeiras definidas, líderes, agenda. Apenas age, impulsionada pela crise de ética na política e na sociedade, pelos escândalos de corrupção e pela impunidade. Poderia também ser chamada de "buracos negros" - fenômeno astronômico no qual um planeta perde a massa mas mantém a gravidade: uma gigantesca força perdida no vácuo. Só que não está no espaço. Está nas ruas.

Os black blocs são jovens entre 20 e 30 anos em sua maioria. Fazem parte de uma geração que nasceu e cresceu vendo denúncias de corrupção, associam diretamente política e sucesso empresarial com desonestidade, não têm exemplo de ética, não conhecem o que é certo e o que se deve respeitar.

Eles são um fenômeno social que explica o momento político que passamos. 

Um momento em que um governo popular, que sempre empunhou a bandeira da dignidade, enfrenta a denúncia do mensalão - talvez a única forma encontrada para aprovar projetos de interesse do povo. Um momento em que até os que respondem pela Justiça são flagrados em denúncias que denigrem seu próprio poder de fazer justiça. Em que mesmo após dar entrevistas desmerecendo a classe política, o presidente do STF antecipa publicamente sua vontade de entrar nesta vida pública. Joaquim Barbosa, que preside a instância máxima da Justiça brasileira, não diz como se deve corrigir a política que tanto critica, mas afirma que pensa em ser um futuro candidato. Será este futuro imediato, já que ele tem seis meses para se desincompatibilizar? Então, acredita que em meados de 2014, com o fim do mensalão e sua visibilidade, sua popularidade pode crescer. E o projeto de governo, que todo o candidato deve ter, ele tem?

Vivemos num tempo em que o empresário corrupto em conluio com o poder público vê no máximo seus bens serem bloqueados. Bens, aliás, que se adquiridos de forma ilícita, deveriam ser expropriados, pois ladrão não adquire, rouba. Mas o poder do dinheiro ameniza penas e garante a impunidade.

O poder do dinheiro permite que bancos e empresas quebrados prejudiquem correntistas e seus empregados, mas seus donos permaneçam impunes. Bancos e empresas como o Prósper, Cruzeiro do Sul, PanAmericano, Econômico, OGX, Delta, frigoríficos - entre tantos outros -, e empreiteiras eternamente envolvidas em corromper. 

Vivemos num tempo de incoerência política, num tempo em que a mídia publica, diariamente, denúncias que apodrecem ainda mais a imagem do poder público.

O fenômeno black bloc traduz uma geração de "cegos"  por não poder ver a dignidade na sociedade e na vida pública. Eles quebram as ruas em busca do sol. Querem ser vistos e dizer aos governantes que existem.

O Jornal do Brasil não se solidariza com este tipo de apelação, e espera uma resposta do poder a essas agressões que fazem. Em recente declaração na TV, eles disseram ser revolucionários. Serão?

Hoje, quebram como aqueles sequestraram embaixadores.

Hoje, são chamados de vândalos, enquanto aqueles, chamados de assassinos, eram presos e deportados.

Hoje os que sequestraram são o próprio poder que livrou o Brasil de sanguinários momentos.

E no futuro, quem serão os black blocs?