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Quaresma é gratidão e alegria

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Segundo a história da Igreja, a quaresma é designação do período de quarenta dias que antecedem a ressurreição de Jesus Cristo, celebrada no domingo da Páscoa. Para isso iniciamos esse tempo litúrgico na quarta-feira de cinzas e o concluímos na quinta-feira na Santa Missa do ‘Lava-pés’.

Para nós, católicos, a Quaresma é um tempo no qual Deus permite que possamos olhar para nós mesmos e a partir de nossos passos trilhar novos rumos para o céu. A tradição da Igreja afirma que esse tempo quaresmal é propício para se plantar o sacrifício para colher na páscoa a ressurreição. 

Quero relatar uma experiência pessoal que me fez compreender outras formas de sacrifício. Estive em uma confissão recentemente me preparando para essa quaresma e o Padre, um jesuíta muito especial, me deu a seguinte penitencia: “Seja grato e feliz com o Amor de Deus por você que te trouxe até aqui!”

Fiquei pensando horas para entender o que ele queria dizer com isso, e onde estava o sacrifício que a Igreja fala tanto nesse período. Geralmente ficamos presos nas dolorosas penitências, desafios, provações, purificações que escutamos dizer que esse tempo pede.

Ficamos presos nos erros do dia a dia, na insegurança, na imaturidade egocêntrica, individualista, e esquecemos que muitas vezes ficamos presos a um centralismo exacerbado nas coisas imediatas que nos tira a possibilidade do diálogo com Deus e com o outro.

Rezei, rezei e rezei, e pude perceber que a real vivência do sentido quaresmal nos devolve a verdadeira origem da humanidade, aquela que nos impulsiona para a felicidade autêntica da criação, aquela que nos fez a imagem a semelhança da Trindade, aquela que reaviva nossa intimidade com Deus, isso é a Quaresma, isso nos leva a autenticidade pascal!

Uma provocação me leva a refletir na importância desse tempo: Se a quaresma é um tempo de resgatar a alegria por que ficamos tão presos a sacrifícios tão dolorosos? Será que não percebemos que o amor nasceu na criação da humanidade e fugimos tanto dele por nosso medo de amar? Será ainda que não conseguimos ver que julgamentos, avaliações da vida alheia, injurias e inverdades desfiguram o rosto humano de Deus que está em cada um de nós? 

Pelo que experimentei nessa confissão partilhada, sabendo é uma relação pessoal, porém comunitária,descobri que a graça do louvor e da gratidão me leva além de mim, me faz ir ao encontro ao outro, me impulsiona para a caridade. Experimente também a quaresma com ânimo e generosidade, que com certeza vai também poder contemplar as maravilhas da ressurreição, frutos da espiritualidade e da vida de oração. 

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.