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Vocês também querem ir embora?

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Esta pergunta foi feita na narrativa da Liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum e é central para nos questionarmos sobre o que queremos da nossa vida. Essa pergunta está para além das reclamações e lamúrias vividas pelos discípulos de Jesus. Essa pergunta toca na alma quando nos perguntamos a respeito do nosso projeto de vida. 

A narrativa deste domingo na missa descreve que muitos discípulos que ouviam as palavras de Jesus reclamavam demasiadamente: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” Jó 6, 60. Percebendo que seus discípulos estavam reclamando da dureza do evangelho e da cobrança exigida por Ele. Jesus propõe que se radicalize ainda mais, para viver intensamente o amor que emana do povo, do pobre e do excluído. Para os reclamões da época retrucou na mesma narrativa:

“Isso vos escandaliza? Que será, então, quando virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá a vida. A carne para nada serve. As palavras que vos falei são Espírito e são vida. Mas há alguns entre vós que não creem”.

Jesus sabia desde o início quem iria seguir os seus ensinamentos e quem os rejeitariam. Por isso também perguntou aos Doze: “Vós também quereis ir embora?”

Em resposta a Jesus, o Apostolo Pedro faz a maior afirmação da fé da história da Igreja: “A quem iremos Senhor? Só Tu tens palavras de vida eterna”Jó 6,68. Porém esta indagação e a resposta a ela ultrapassam as fronteiras religiosas e cai no cenário atual como um questionamento pra vida. Cabe a cada cidadão (cristão ou não) contextualizar essa pergunta e saber dar a resposta correta. 

Quando os discípulos começaram a abandonar Jesus e não mais andavam com Ele, começaram a revelar que era melhor ficar com suas criticas, individualismos, desejos pessoais em detrimento do coletivo, do comunitário, da experiência que Jesus propunha. Foram eles que escolheram ouvir somente o que lhes eram cômodo e favorável. Eles que optaram não sintonizar corretamente a mensagem evangélica para alcançar seu pleno sentido de vida. 

Como Pedro, também em nossa vida, temos momentos nos quais há que renovar e manifestar que estamos em sintonia com o projeto revolucionário de Jesus e que queremos seguir com Ele. Pedro amava e por isso permaneceu com Ele e seu projeto. Os outros queriam estar com Ele pelo pão, pelo status, por razões inúmeras, porémo deixaram. O segredo da fidelidade é amar. 

Mas o amor se condiciona a minha limitação humana? Sim, Jesus foi humano e amou até o fim. 

Acredito que o evangelho aqui citado é fonte de inspiração para nos questionarmos para onde queremos ir e com quem queremos ir. Isso dá instrumento de leitura e de oração para vermos as misérias humanas e não se limitar nelas. Permito-me a concluir como Agostinho afirma: “A medida do Amor, é amar sem medida”.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.