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Intolerância religiosa não é vandalismo, é terrorismo

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Intolerância religiosa não é apenas um ato de um grupo de vândalos que desrespeitam a fé alheia, mas é sim uma atitude com o único intuito de causar o terror. Até quando vamos ver a intolerância religiosa execrar nossos direitos? Até quando vamos ter que olhar os desmandos de fundamentalistas e não ver a justiça fazendo o seu papel? Até quando o respeito à liberdade do outro vai ser colocada em segundo plano?

Pensar em respostas para essas perguntas me deixa indignado e de certa forma um pouco nervoso. Vendo os últimos casos noticiados pela imprensa sobre os casos de perseguição religiosa me vejo diante de uma cena catastrófica onde o medo pode me reprimir de livremente expressar meus preceitos religiosos.

Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 18, “Todo o homem tem direito à liberdade de pensamentoconsciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”.

Para situar os acontecimentos, quero primeiro prestar solidariedade à sudanesa Meriam, que se declarando cristã foi condenada à morte por negar o Islã. Boas notícias, informada pelos seus advogados, falam da sua liberdade depois de dar à luz na prisão, nesta segunda-feira (23).

A condenação à forca de Meriam Yahia Ibrahim Ishag em 15 de maio passado, que pela lei islâmica que proíbe as conversões, se deu pelo fato da filha de um muçulmano ter se casado com um cristão. Antecedendo a forca, Meriam, também foi condenada a 100 chicotadas por adultério, já que para o islã as uniões entre uma muçulmana e um não-muçulmano são consideradas traição conjugal.

Outro caso que me deixou chocado foi o fato que aconteceu na cidade de Carrapateira, sertão da Paraíba, onde um grupo de evangélicos quebrou, cuspiu, urinou e ateou fogo em uma imagem de 1 metro de Nossa Senhora das Graças. Os fiéis da Igreja evangélica liderada pelo pastor Luis Poroca, afirmam que a iniciativa do grupo é legitima pois está escrito na Bíblia para quebrar os ídolos e lançar as imagens fora dos templos.

No Rio de Janeiro, diversod traficantes, de diversas favelas da cidade, se dizem frequentadores de igrejas evangélicas e não toleram a “macumba” nos arredores de seus domínios. Terreiros, roupas brancas e adereços que anunciam a crença são proibidos e quem ousa desobedecer é expulso de suas casas pelos bandidos para não mais voltar.

Fico pensando na falta de tolerância espiritual com que algumas mentes vazias de conceitos têm. A religiosidade e suas manifestações são protegidas pela Lei da Constituição Federal no Brasil que diz: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;“ (Art. 5, inc. VI)

Não tolerar é no mínimo o fim dos tempos! O Papa Francisco recentemente disse que “na cruz vemos a monstruosidade do homem quando se deixa guiar pelo mal”. Não vejo outra forma de definir esses atos de desrespeito e intolerância à liberdade do outro. Todas as pessoas e suas respectivas religiões merecem proteção e respeito. Ser intolerante é violar o Estado Democrático de Direito, Precisamos urgente de um choque de cidadania e ética para de construção de uma sociedade livre, fraterna, justa e solidária.

Fica aqui a indignação por esses fatos. Fico na esperança por uma revolução democrática em nossa sociedade.

 

* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assim como a equipe da Pastoral Universitária Anchieta da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ