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Papa diz que bispos não podem ter "psicologia de príncipes"

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Após celebrar a Missa de Envio da Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana, Papa Francisco se reuniu com membros do Comitê do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), no Sumaré, onde falou sobre a importância de os bispos se dirigirem às comunidades com diálogo e se tornarem pastores próximos às pessoas, agindo com simplicidade e sem ambição.

Francisco se referiu à Missão Continental, o documento surgido da 5ª reunião do Celam, em Aparecida, em 2007, onde foram traçadas as linhas a serem seguidas pela igreja latino-americana no século 21.

O Papa destacou que são os bispos que conduzem a pastoral, e que eles devem se aproximar das pessoas.  "Homens que amem a pobreza, seja a pobreza interior como liberdade perante o senhor, seja a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham 'psicologia de príncipes'. Homens que não sejam ambiciosos, homens capazes de velar sobre o rebanho confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido, vigiar seu povo com atenção para os eventuais perigos que o ameacem, sobretudo para garantir a esperança, que haja sol e luz nos corações", conclamou, acrescentando: "O lugar do bispo para estar com seu povo é triplo: à frente, para indicar o caminho; no meio, para mantê-lo unido e neutralizar os debandes; ou atrás, para evitar que algum fique atrasado, mas também, e fundamentalmente, porque o rebanho também tem olfato próprio para encontrar novos caminhos."

Francisco disse ainda que a igreja e sociedade como um todo estão atrasados no que se refere a Conversão Pastoral.

O Pontífice analisou o documento de Aparecida e assinalou que a Igreja é instituição, mas quando se posiciona como centro acaba se transformando em uma ONG, sendo autorreferencial e se fragilizando na necessidade de ser missionária. Francisco citou ainda a intervenção do clero nos negócios públicos e privados, chamada de clericalismo, o que, de acordo com ele, é também uma tentação muito atual na América Latina.

"Curiosamente, na maioria dos casos, trata-se de uma cumplicidade pecadora: o padre clericaliza e o laico lhe pede por favor que se clericalize, porque no fundo é mais cômodo. O fenômeno do clericalismo explica, em grande parte, a falta de maturidade e de liberdade cristã em boa parte do continente laico latino-americano", denunciou.

Francisco destacou que Aparecida propôs a renovação interna da Igreja e disse que é necessário com frequência que os bispos reflitam se o trabalho que fazem é mais pastoral que administrativo, se promovem espaços e ocasiões para manifestar a misericórdia de Deus, se participam da missão aos fiéis laicos e se são apoiados, "superando qualquer tentação de manipulação ou submissão indevida".

Francisco também citou algumas tentações contra a missão, entre elas o "reducionismo sociabilizante, que abrange os campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até o marxismo; a ideologização psicológica, que reduz o encontro com Jesus Cristo a um conhecimento, ignorando a transcendência da missão e a proposta agnóstica que se dá em grupos de elitistas; e os denominados católicos ilustrados, por serem herdeiros do Iluminismo".