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"Não vamos entrar na psicose da segurança", diz Dom Odilo sobre papa

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O arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odilo Scherer, pediu que as pessoas não exagerem sobre o que aconteceu com o papa Francisco no Centro do Rio de Janeiro na tarde de segunda-feira, quando o carro do Pontífice ficou preso em um engarrafamento e foi cercado por uma multidão e os ônibus que estavam parados na via. 

"O papa quer estar perto do povo e as manifestações todas foram de muito carinho para com ele. Não vamos exagerar na psicose da segurança. Não eram pessoas perigosas ali e nem somos perigosos, somos da paz", disse Dom Odilo durante entrevista coletiva na tarde desta terça-feira no Centro de Mídia da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Copacabana, afirmando que as forças de segurança estão fazendo seu trabalho como devem.

Para o religioso, é preciso analisar bem o que aconteceu com o papa e os jovens do mundo todo que estão no Rio para a Jornada. "O papa não é um ídolo. Ele representa a figura paterna que anda sendo tão destruída nos tempos atuais. Muitas vezes, os jovens se sentem órfãos e querem sentir o papa, ouvir o que ele tem a lhes dizer, tocá-lo", afirmou, lembrando que, mesmo doente e quase sem forças, o papa João Paulo II despertava o mesmo tipo de sentimento na juventude. "Mas o que o papa Francisco vem propor a eles é algo que não é fácil. Jesus já dizia isso no Evangelho", lembrou.

O arcebispo de São Paulo falou também sobre os protestos que voltaram a acontecer na segunda-feira, em frente ao Palácio Guanabara, no Rio, e negou que seja algo contra o papa, contra a Igreja ou contra a Jornada Mundial da Juventude. "Vejo os protestos de ontem voltados contra a realidade política do Rio. A Igreja vê bem qualquer protesto dentro da ordem democrática. Mas a violência não deveria fazer parte da manifestação", lamentou, dizendo que muitos dos protestos se aproveitam da Jornada Mundial da Juventude para tentar aparecer mais. 

Sobre o questionamento dos gastos da Jornada Mundial da Juventude, Dom Odilo Scherer afirmou que os gastos existem como em qualquer outro evento, mas que há retorno sempre. "As dioceses, igrejas e peregrinos estão ajudando e é inevitável que em um evento como esse o governo tenha algum gasto. Mas não é um dinheiro desperdiçado, é um dinheiro que circula no País e que dá retorno", afirmou o cardeal. 

Sobre o que Francisco vai incluir em suas homilias, o arcebispo de São Paulo disse não estar na organização do evento e muito menos próximo da comitiva do Papa. "Não posso analisar o discurso dele antes de ouvi-lo. Quero ser surpreendido. O Papa vai falar muito ainda e muitas coisas que os jovens vão precisar ouvir."

Para Dom Odilo, a Igreja tem que usar a JMJ como instrumento para entrar em sintonia com o jovem atual. "No momento de crise por que passamos, a ótica da Igreja não pode ser a ótica do mercado, mas na relação do homem com Deus, e isso não tem encontrado muito espaço", criticou. 

Dom Odilo Scherer foi questionado também sobre a possibilidade de a Igreja Católica recuperar-se, com o papa Francisco, da perda de fieis que vem enfrentando. "Fala-se sempre da Igreja Católica, mas a maior perda é das igrejas evangélicas tradicionais. O maior crescimento é na verdade da não religião, dos que acham que a igreja os rouba. A desmoralização da religião é a pior coisa que pode acontecer", afirmou, dizendo que, quando a lógica do mercado prevalece, é a falência da religião.

"Tenho a certeza que a presença do Papa vai render frutos, mas a principal mudança da Igreja é em seguir sendo fiel à sua missão no tempo e no espaço onde ela está inserida", disse, deixando no ar se é melhor que o papa Francisco introduza mudanças significativas na Igreja no que se refere a questões morais ou se deve seguir o modelo mais conservador atual.