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Espelho do país, seleção suíça tem elenco multiétnico

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A Suíça é desde suas origens uma nação multicultural. Com uma área menor que a do Espírito Santo, o país possui quatro idiomas oficiais: alemão, francês, italiano e romanche, língua nascida do latim vulgar.    

Sem fazer muito esforço, é possível acordar dizendo bonjour, almoçar falando guten tag e ir dormir saudando com um buonanotte. Mas, além disso, a Confederação Helvética recebe todos os anos um grande contingente de imigrantes, algo que já é característico na sociedade local e que ultimamente vem produzindo efeitos bastante benéficos sobre o seu futebol.   

Os suíços trouxeram para a Copa do Mundo de 2014 aquela que é provavelmente a seleção mais rica etnicamente entre as 32 classificadas. Dos 23 jogadores chamados pelo técnico Ottmar Hitzfeld, sete nasceram em outros países. Xherdan Shaqiri, por exemplo, considerado o craque do time, vem do Kosovo, assim como Valon Behrami e Granit Xhaka. Há também atletas da Macedônia (Blerim Dzemaili e Admir Mehmedi), Costa do Marfim (Johan Djourou) e Cabo Verde (Gelson Fernandes).    

Achou pouco? Outros oito são filhos de estrangeiros e possuem dupla nacionalidade, incluindo bósnia (Haris Seferovic), croata (Mario Gavranovic e Josip Drmic), turca (Gökhan Inler), italiana (Diego Benaglio e Tranquillo Barnetta) e espanhola (Philippe Senderos e Ricardo Rodríguez). 

"A Suíça é um país de imigração. Tendo em vista a riqueza do país, sempre chegaram muitos habitantes estrangeiros. Da Itália, da Espanha, da Alemanha, e mais frequentemente da Turquia e da ex-Iugoslávia", explica Raffaele Poli, pesquisador do Centro Internacional de Estudos Esportivos (Cies), situado em Neuchâtel.    

A presença da imigração sempre foi marcante no futebol local, desde os tempos do ítalo-suíço Severino Minelli, que defendeu a nação nas copas de 1934 e 1938. Isso ganhou força depois da Segunda Guerra Mundial, quando muitos europeus passaram a procurar esse próspero país alpino em busca de uma vida melhor.    

Mas a integração de estrangeiros ou de seus herdeiros no esporte começou a ser incentivada com mais ênfase recentemente, graças a políticas implantadas pela Associação Suíça de Futebol (ASF).    

A entidade criou diversas seleções regionais para jovens de 12 a 13 anos, que podem participar das equipes mesmo sem serem naturalizados. Quando chegam aos 15 ou 16 anos, os adolescentes com potencial são ajudados ou encorajados pela ASF a solicitar um passaporte suíço, desde que respeitem os critérios estabelecidos pela lei. Seis anos vivendo como menor de idade no país são suficientes para requerer o documento. 

"A Suíça sempre foi muito aberta no futebol. Os clubes sempre buscaram integrar pessoas que vivem perto das fronteiras ou estrangeiros que moram na Suíça. Mas ultimamente deram destaque para a formação de jovens, o que otimizou a estratégia de seleções e recrutamentos", acrescenta Poli.    

Claro que nem sempre os talentos descobertos conseguem ser aproveitados. O meia do Sevilla Ivan Rakitic, por exemplo, nasceu na cidade de Möhlin, mas escolheu defender a Croácia, de onde veio sua família. Porém toda essa receptividade tem se refletido cada vez mais no futebol local. Atualmente, um terço dos seus jogadores é estrangeiro, outro um terço tem dupla nacionalidade e o um terço restante é "100% suíço".    

Os números dentro de campo também são significativos. Com uma seleção multicultural, o país se classificou com folga para a Copa de 2014, com sete vitórias e três empates, e entrou como cabeça de chave no torneio. Em um grupo que tem Honduras, Equador e França, as suas chances de avançar às oitavas de final são grandes. A equipe é ainda a última a derrotar o Brasil, em uma vitória por 1 a 0 em agosto do ano passado na Basileia.    

"A seleção tem uma grande aceitação, até porque os resultados têm sido bons", conclui o pesquisador do Cies. E não há motivos para que um time tão rico em diversidade seja rejeitado. Porque não importa se seus jogadores nasceram no Kosovo, em Cabo Verde ou em Zurique, o fato é que todos são igualmente suíços. Esse mosaico étnico que caracteriza o escrete helvético nada mais é do que um fiel retrato do país. Uma nação pequena, mas que parece abrigar o mundo inteiro.