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Com morte de Mohammad Akhtar, AFP perde terceiro colaborador em Cabul

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O vice-presidente Abdul Rashid Dostum escapou ileso, mas 23 pessoas morreram e outras 107 ficaram feridas no domingo (22) no atentado suicida dirigido contra ele em seu retorno do exílio. Entre as vítimas, um motorista da AFP, amigo de todos e pai de quatro filhos.

Com seu olhar brilhante e fresco e ar jovial, Mohammad Akhtar, de 30 anos, conhecido como Akhtar Jan, um apelido carinhoso, trabalhava no escritório da AFP em Cabul desde 2007 e conduzia os jornalistas a zonas às vezes perigosas.

Durante os engarrafamentos infernais da capital do Afeganistão, Akhtar aproveitava para melhorar seu francês na companhia dos jornalistas.

No domigo, passava pelo aeroporto de Cabul a caminho do trabalho. O mesmo aeroporto onde acabara de desembarcar o general e chefe de guerra Abdul Rachid Dostum, também vice-presidente do Afeganistão, que retornou ao país depois de um ano de exílio na Turquia.

No caminho, cruzou com um suicida do grupo Estado Islâmico (EI).

O ataque era dirigido contra Dostum, mas, como seu veículo já havia passado, as vítimas foram seus partidários, pessoas que passavam por ali e membros de suas forças de segurança (nove deles morreram).

Akhtar é o segundo colaborador da AFP a morrer em um ataque este ano. Em 30 de abril, o chefe de fotografia do escritório de Cabul, Shah Marai, de 41 anos, também morreu em um ataque suicida do EI.

Os dois eram primos.

Shah Marai cobria um ataque contra a sede dos serviços de informação afegãos quando um segundo suicida se explodiu entre os jornalistas, causando nove mortes.

- Onze órfãos -

Em março de 2014, o jornalista Sardar Ahmad, outro pilar do escritório da AFP em Cabul e um dos melhores amigos de Shah Marai, morreu junto com sua esposa e dois de seus três filhos em um hotel em Cabul, onde tinham ido jantar.

O Talibã reivindicou o ataque ao edifício que, em teoria, estava protegido.

Os três profissionais deixaram ao todo onze órfãos.

Akhtar perdeu no ano passado uma filha de dois anos. Apesar disso, continuou mostrando como sempre seu bom coração. "Ele guardava tudo para ele, sem fazer drama", recorda Rateb Noori, repórter de vídeo do escritório da AFP que elogia um homem "simples, paciente e direto".

"Mais uma vez, nosso escritório em Cabul sofreu um enorme choque", declarou a diretora de informação da AFP, Michèle Léridon.

"Pensamos na família de Akhtar e em seus colegas da AFP, que continuam a fazer seu trabalho com profissionalismo e com muita coragem", ressaltou.

Essas mortes violentas são uma amostra do que a população afegã vive diariamente devido à multiplicação dos ataques do Talibã e sobretudo do EI, particularmente em Cabul.

Segundo a Missão de Assistência das Nações Unidas para o Afeganistão (Manua), o Afeganistão quebrou um novo recorde de civis mortos, com cerca de 1.700 mortos no primeiro semestre de 2018. Mais da metade morreu em ataques atribuídos ao EI.