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Perda de florestas intactas da Terra acelera

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As florestas intactas da Terra perderam uma área maior que a Áustria todos os anos de 2014 a 2016, a uma taxa 20% maior do que na década anterior, disseram cientistas nesta quarta-feira, ao mesmo tempo em que a ONU revelou uma iniciativa para aproveitar o "potencial inexplorado" do setor de terras para combater as alterações climáticas.

Apesar de décadas de esforços para deter o desmatamento, quase 10% das florestas intactas foram fragmentadas, degradadas ou simplesmente cortadas desde 2000, de acordo com a análise de imagens de satélite.

A perda diária média nos primeiros 17 anos deste século foi de mais de 200 quilômetros quadrados.

"A degradação da floresta intacta representa uma tragédia global, já que estamos sistematicamente destruindo uma base crucial da estabilidade climática", disse Frances Seymour, membro sênior do Instituto de Recursos Mundiais (WRI) e colaboradora da pesquisa, apresentada nesta semana em uma conferência em Oxford.

"As florestas são a única infraestrutura segura, natural, comprovada e acessível que temos para capturar e armazenar carbono", acrescentou.

As descobertas chegam em um momento em que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e cinco grandes organizações conservacionistas lançam um plano de cinco anos, o Nature4Climate, para aproveitar melhor o uso da terra na redução das emissões de gases do efeito estufa.

"Trinta e sete por cento do que é necessário para ficar abaixo de dois graus Celsius" de aquecimento - o objetivo do Acordo de Paris, assinado por 196 países - "pode ser fornecido por terras", disse Andrew Steer, presidente e CEO do WRI.

"Mas apenas 3% do financiamento público para a mitigação vai para questões de terras e florestas - isso precisa mudar", declarou à AFP.

Além da questão do clima, as últimas fronteiras florestais também desempenham um papel crítico na manutenção da biodiversidade, estabilidade climática, ar limpo e qualidade da água.

Ao menos 500 milhões de pessoas em todo o mundo dependem diretamente das florestas para seu sustento.

As chamadas "paisagens florestais intactas" - que podem incluir zonas úmidas e pastagens de grama natural - são definidas como áreas de pelo menos 500 quilômetros quadrados sem evidência visível em imagens de satélite de uso humano em larga escala.

Concretamente, isso significa que não há estradas, agricultura industrial, minas, ferrovias, canais ou linhas de transmissão.

- "Certamente preocupante" -

Em janeiro de 2017, havia cerca de 11,6 milhões de quilômetros quadrados de florestas em todo o mundo que ainda se encaixavam nesses critérios. De 2014 a 2016, essa área diminuiu em mais de 87.000 km2 por ano.

"Muitos países podem perder todas as suas florestas virgens nos próximos 15 a 20 anos", disse à AFP Peter Potapov, professor associado da Universidade de Maryland e principal cientista da pesquisa.

Segundo as tendências atuais, as florestas intactas desaparecerão até 2030 no Paraguai, no Laos e na Guiné Equatorial, e até 2040 na República Centro-Africana, Nicarágua, Mianmar, Camboja e Angola.

"Pode chegar um momento no futuro em que nenhuma área do mundo se qualifique mais como 'intacta'", disse Tom Evans, diretor de conservação florestal e mitigação climática da Wildlife Conservation Society.

"É certamente preocupante", afirmou.

Nos países tropicais, as principais causas de perda de florestas virgens são a conversão para agricultura e a extração de madeira. No Canadá e nos Estados Unidos, o fogo é o principal culpado, enquanto na Rússia e na Austrália, a destruição foi causada por incêndios, mineração e extração de energia.

Em comparação com as quedas anuais durante o período de 2000 a 2013, a Rússia perdeu, em média, 90% mais a cada ano de 2014 a 2016.

Para a Indonésia, o aumento foi de 62%, e para o Brasil, de 16%.

Os novos resultados foram baseados em uma análise mundial de imagens de satélite, em um estudo feito pela primeira vez em 2008 e repetido em 2013.

- Áreas protegidas -

"Os dados de alta resolução, como os coletados pelo programa Landsat, nos permitem detectar as alterações e fragmentações causadas pelo homem nas florestas", disse Potapov.

Apresentada na conferência Florestas Intactas no Século 21 na Universidade de Oxford, a descoberta será submetida para publicação revisada por pares, disse Potapov, que fez uma palestra durante o evento de três dias.

Dirigindo-se a colegas de todo o mundo, Potapov também questionou a eficácia de um sistema global de certificação voluntária.

Criada em 1994 e apoiada por grupos ecológicos como o World Wildlife Fund, a missão autodeclarada do Forest Stewardship Council (FSC) é "promover uma gestão ambientalmente apropriada, socialmente benéfica e economicamente viável das florestas do mundo".

Muitos produtos florestais possuem o selo FSC, criado para tranquilizar os consumidores preocupados com o meio ambiente. Mas aproximadamente metade de todas as paisagens florestais intactas dentro das concessões certificadas pelo FSC foram perdidas de 2000 a 2016 no Gabão e na República do Congo, mostraram os novos dados.

Em Camarões, cerca de 90% das florestas silvestres monitoradas pelo FSC desapareceram.

"O FSC é um mecanismo eficaz para fragmentar e degradar as paisagens de florestas intactas que restam, e não uma ferramenta para sua proteção", disse Potapov.

Parques nacionais e regionais ajudaram a desacelerar a taxa de declínio.

As chances de perda florestal foram três vezes maiores fora das áreas protegidas do que dentro delas, relataram os pesquisadores.