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Colômbia entre duas opções radicais e com a paz no centro

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A esquerda radical e a direita conservadora se enfrentarão no domingo (25) em um duelo inédito pela presidência da Colômbia. Dois temas-chave estarão em jogo: um acordo de paz a ser cumprido e a delicada relação com a Venezuela.

Terminado o conflito de meio século com as Farc, a guerrilha que historicamente marcou as disputas eleitorais, a quarta maior economia da América Latina comparecerá às urnas polarizada, com um novo cardápio de preocupações.

A corrupção, a desaceleração econômica, a saúde e o avanço do narcotráfico, que afeta as fronteiras com Venezuela e Equador, preocupam os colombianos.

Nenhuma pesquisa antecipa uma definição no primeiro turno e, caso isto seja confirmado, o país terá um segundo turno em 17 de junho para definir o futuro presidente de uma nação de 49 milhões de habitantes, aliado dos Estados Unidos e maior exportador mundial de cocaína.

- Dois favoritos entre seis -

Pela primeira vez, a esquerda antissistema disputa o poder contra a direita, após uma campanha repleta de debates e proselitismo nas redes sociais. A abstenção, que nas últimas votações ficou próxima de 50%, pode voltar a ser protagonista.

A eleição tem seis candidatos, mas dois são favoritos para o segundo turno.

O mais jovem e líder nas pesquisas é o postulante da direita Iván Duque, um senador de 41 anos, sem grande trajetória política, mas com um apoio de peso: o do controverso ex-presidente Álvaro Uribe, o senador mais votado nas legislativas de março.

O segundo colocado nas pesquisas, com uma desvantagem de 10 pontos, é Gustavo Petro, ex-guerrilheiro e ex-prefeito de Bogotá de 58 anos, que promete uma série de reformas.

Em seguida, aparecem o candidato independente de centro Sergio Fajardo e o ex-vice-presidente Germán Vargas, que lutam para surpreender nas urnas. O ex-negociador de paz com as Farc Humberto de la Calle aparece muito atrás, enquanto o evangélico Jorge Trujillo não registra índice nas pesquisas.

- Paz e polarização -

Adversários, Duque e Petro são a expressão de um país dividido.

"Esta polarização começou antes, no plebiscito de 2016 para referendar os acordos de paz", destaca Juan Carlos Rodríguez, do Observatório da Democracia da Universidade dos Andes.

Apesar da vitória do "Não" no plebiscito, o presidente Juan Manuel Santos levou adiante o acordo que desarmou no ano passado quase 7.000 combatentes, mas ainda é necessário implementar o sistema de justiça para garantir a verdade e a reparação a milhões de vítimas.

Duque deseja modificar o acordo que evitou 3.000 mortes por ano, para impedir que os rebeldes envolvidos em crimes considerados atrozes exerçam cargos políticos, enquanto Petro assegura que honrará os compromissos.

"A direita poderia desmontar partes muito importantes do acordo, como Donald Trump tem feito com as políticas de Barack Obama", opina Robert Karl, analista da Universidade de Princeton.

Em sua tentativa por uma paz completa, Santos também negocia com o Exército de Libertação Nacional (ELN), enquanto o governo combate os dissidentes das Farc e os grupos armados do narcotráfico.

Com Duque, dificilmente prosseguiriam as negociações com o ELN.

- O fenômeno-

Com uma combinação de praça pública e redes sociais, Petro decolou durante a campanha. Em seu período na prefeitura de Bogotá, ganhou a fama de autoritário e de mau administrador, mas ele encarna o "cansaço" com as elites políticas e a "irritação" com a corrupção, de acordo com Rodríguez.

"Antes da dissolução das Farc, a esquerda tinha pouca margem de manobra porque era facilmente estigmatizada", destaca.

Em um dos países más desiguais do mundo, Petro planeja uma economia não dependente do petróleo e uma agenda ambiental e progressista em temas sociais.

"Aqui, estas reformas são consideradas extremistas, porque vivemos em um feudalismo bastante manchado pelo narcotráfico", afirmou Petro à AFP.

Já Duque luta para não parecer um "fantoche" de Uribe, apesar de defender as mesmas causas de seu mentor: investimento privado, Estado austero e valores familiares tradicionais.

"A segurança é parte fundamental da agenda nacional como valor democrático", afirma.

Na disputa, o centro chegou dividido e sem fôlego.

- Venezuela -

A Venezuela foi um dos principais temas da campanha. A crise econômica levou 762.000 venezuelanos para a Colômbia, e 518.000 desejam permanecer no país.

Bogotá praticamente não tem relações com o governo do agora reeleito Nicolás Maduro. A fronteira virou uma área de contrabando de gasolina, mercadorias e drogas.

Duque propagou a ideia de que, em um governo "castrochavista" de Petro, a Colômbia se tornaria a Venezuela.

Petro, que simpatizava com o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, afastou-se de Maduro e de seu projeto "adverso à democracia". Por trás de tais sentimentos, afirma, existe uma campanha de medo.

"Mas, felizmente, existe o consenso de que os migrantes não podem ser expulsos, não podem ser tratados abaixo do mínimo de respeito e humanidade", afirma Sebastián Bitar, analista político da Universidade dos Andes.

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