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América Latina nas urnas

Sete países votaram ou votarão em 2018; Paraguai elege presidente neste domingo

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Os paraguaios decidem hoje o futuro governante do país. As pesquisas apontam a liderança do Partido Colorado, legenda do atual presidente, Horácio Cartes. Quatro outros países vão protagonizar uma sequência de eleições presidenciais no continente em 2018. O ciclo eleitoral deste ano pode redefinir a configuração da política latino-americana, embora especialistas apontem a imprevisibilidade dos resultados na maior parte dos países. Até outubro, além do Paraguai, cidadãos da Venezuela, Colômbia, México e Brasil serão convocados às urnas. Costa Rica e Cuba já elegeram seus novos presidentes antes do fim do segundo trimestre.  

Segundo Pablo Fontes, doutorando em relações internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o cenário das eleições indica enorme imprevisibilidade. “As pesquisas podem surpreender, como ocorreu no Brexit e no acordo de paz na Colômbia. A democracia é muito complexa na América Latina, especialmente na atual conjuntura”, diz o pesquisador. 

Um ponto em comum na região é a instabilidade política. O Paraguai vota pela primeira vez depois dos violentos protestos contra a aprovação da reeleição em 2017, que culminaram no incêndio do Congresso e no recuo da lei. O caso mais extremo é o da Venezuela, imersa em uma crise econômica, social e política. Mas o jogo  não acaba em dezembro para a América Latina. Em 2019, o ciclo eleitoral se estende para Argentina, Bolívia, Uruguai, Guatemala, El Salvador e Panamá.  

* Estagiário sob supervisão de Denis Kuck 

Se as pesquisas paraguaias seguirem o roteiro previsto, o Partido Colorado, do candidato Mario Abdo Betínez, vai manter sua hegemonia quase absoluta sobre a política do país. A legenda está à frente da presidência do Paraguai desde 1947, incluindo os 35 anos da ditadura do general Alfredo Stroessner, excetuando o governo de Fernando Lugo, eleito em 2008 e destituído com o apoio dos colorados quatro anos depois. 

Abdo, de 46 anos, foi batizado com o nome do pai e é conhecido pelo apelido “Marito”. Ele tem um parentesco distante com Stroessner e seu pai foi secretário particular do ditador durante décadas. 

Marito é o candidato mais jovem da história do Colorado desde a redemocratização. O atual presidente, Horácio Cartes, acusado de ter ligações com o narcotráfico e o contrabando de cigarros, é impedido de concorrer à reeleição pela constituição, apesar de uma manobra fracassada no Congresso em 2017. 

O principal nome da oposição ao Colorado, Efraín Alegre, 55 anos, aparece 20% atrás de Abdo. É candidato pelo Partido Liberal na mesma coligação que derrotou o Colorado pela primeira vez em 61 anos. A composição com a centro-esquerda indica reconciliação com Lugo - Alegre votou pelo impeachment controverso do ex-governante e concorreu à presidência em 2013, perdendo para Cartes por uma diferença de 8%.

A eleição na Venezuela, inicialmente prevista para dezembro, adiantada para abril e definitivamente transferida para 22 de maio, é a mais turbulenta do ciclo eleitoral na América Latina em 2018. No poder há cinco anos, Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, deve garantir sua reeleição em meio a um pleito controverso e permeado pela grave crise humanitária. O chavismo comanda o país desde 1999. 

Maduro, 55 anos, filiado ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), é acusado de reprimir a oposição de forma ditatorial com o objetivo de se perpetuar no comando do país. Na eleição de 2013, apenas 1,49% distanciaram o opositor liberal Henrique Capríles da presidência. Na disputa legislativa, os oposicionistas ganharam maioria, levando o chavismo a instaurar uma Assembleia Constituinte paralela ao Congresso venezuelano. 

O movimento levou a oposição, organizada na frente Mesa da Unidade Democrática, a boicotar o processo de inscrição de chapas. O único candidato concorrente é Henri Falcón, um chavista dissidente de 56 anos e ex-governador do estado de Lara, o quarto estado mais populoso do país. Ele é visto com desconfiança por alguns opositores, que atribuem à sua candidatura a uma tentativa de respaldar a eleição, evitando uma candidatura única constrangedora. 

Na primeira eleição presidencial na Colômbia depois dos históricos acordos de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), as projeções indicam uma polarização entre o senador Iván Duque, de 41 anos e contrário aos acordos, e o ex-prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, de 57 anos, ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril. 

A legenda de Duque, favorito nas pesquisas, é o Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe e que ganhou a maioria das cadeiras do parlamento em março desse ano. A população colombiana rejeitou a primeira versão do acordo com as Farc em um referendo. O segundo, aprimorado, foi apresentado apenas ao Congresso e acabou aprovado. 

Para o jornalista colombiano Jaime Ortega, a população está dividida. “A Colômbia vive uma polarização muito grande entre a esquerda e a direita por conta dos acordos de paz”, diz Ortega. No entanto, ele descarta que o acordo venha a ser revogado. “O acordo não tem como cair. Pode-se refazer alguns pontos”, afirma. Os apoiadores de Duque criticam a criação da chamada Justiça da Paz,  voltada para os ex-guerrilheiros e que não se estruturou a tempo de julgá-los antes que alguns pudessem ser eleitos senadores e deputados no mês passado. 

O favorito nas eleições no México é um velho conhecido da população. Andrés Manuel López Obrador, candidato nas eleições de 2006 e 2012, lidera todas as pesquisas com folga. Ele é filiado ao partido de esquerda Movimento de Regeneração Nacional. Obrador, 64 anos, quase se tornou presidentre em 2006, quando perdeu para Felipe Calderón por menos de 1%. Embora seja taxado como populista por oposicionistas e muitas vezes comparado com o venezuelano Hugo Chávez, especialistas avaliam que ele está mais próximo de uma esquerda reformista. 

Em segundo lugar, está Ricardo Anaya, jovem político de 39 anos do Partido Ação Nacional, que se coloca como terceira via ao suposto populismo de Obrador e à corrupção do governo do atual presidente, Enrique Peña Nieto. O governista José Antonio Meade, de 49 anos, do Partido Revolucionário Institucional, pontua bem próximo a Anaya, mas enfrenta dificuldades em decorrência da explosão de violência durante a administração Peña Nieto. 

O grande desafio para o futuro presidente mexicano será a relação com os Estados Unidos, aponta o pesquisador Pablo Fontes. “A relação com o México está estremecida. O NAFTA pode ser revisto e há a questão do muro na fronteira”, recorda.