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Londres e UE cobram explicações sobre Cambridge Analytica ao Facebook

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Os parlamentos britânico e europeu exigiram que o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, explique como foi possível que dados de usuários tenham sido usados na campanha eleitoral americana pela empresa Cambridge Analytica, que suspendeu seu CEO. 

As autoridades da União Europeia (UE) abordaram nesta terça-feira (20) o caso da Cambridge Analytica (CA). O tema está na agenda de uma reunião dos responsáveis pela proteção dos dados em Bruxelas, informou a Comissão Europeia, que irá pedir "esclarecimentos" ao Facebook.

"Convidamos Mark Zuckerberg ao Parlamento Europeu. O Facebook precisa esclarecer aos representantes dos 500 milhões de europeus o fato de que seus dados pessoais foram usados para manipular a democracia", escreveu no Twitter o presidente do Parlamento, Europeu, Antonio Tajani. 

Neste contexto, uma comissão parlamentar britânica solicitou o comparecimento do fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckeberg, considerando que as explicações oficiais apresentadas até agora "subestimaram o risco" da aquisição de dados pessoais dos usuários sem seu consentimento.

"Chegou o momento de escutar um alto executivo do Facebook com autoridade suficiente para explicar este grande fracasso", disse Damien Collins, o deputado que preside o comitê, na convocatória dirigida a Zuckerberg. 

"O comitê perguntou insistentemente ao Facebook como as empresas adquirem e retêm informação dos usuários e, em particular, se pegam seus dados sem seu consentimento", explicou Collins.

"As respostas de seus representantes" a essas questões "consistentemente subestimaram esse risco e foram enganosas", disse o deputado.

- Prostitutas e subornos contra candidatos -

Segundo a investigação realizada pelos jornais "The New York Times" e "The Observer" (a edição dominical do jornal britânico "The Guardian"), a Cambridge Analytica usou dados de milhões de usuários de Facebook, sem seu consentimento, com os quais teria criado um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores.

O Facebook suspendeu a CA na semana passada, após saber que a empresa não havia destruído os dados de milhões de usuários.

O interesse nas atividades de Cambridge Analytica foi redobrado após a transmissão na segunda-feira de uma reportagem do Channel 4, na qual os diretores, entre eles o presidente executivo Alexander Nix, ofereciam a um jornalista que se fez passar por cliente potencial desacreditar seus rivais políticos envolvendo-os com prostitutas, ou subornos, por exemplo.

A empresa britânica anunciou nesta terça-feira a suspensão de Nix "com efeito imediato e à espera de uma investigação completa e independente".

"Do ponto de vista da junta, os recentes comentários gravados em sigilo e outras declarações não representam os valores ou as operações da empresa, e sua suspensão reflete a seriedade com que consideramos esta violação", reagiu a junta diretiva da Cambridge Analytica em um comunicado.

Os diretores explicavam igualmente algumas técnicas para manipular a opinião pública, como lançar calúnias contra os candidatos: "coisas que não precisam ser necessariamente verdade", disse o presidente executivo da companhia, Alexander Nix, ao jornalista da Channel 4.

"Explorar a vida dos candidatos para encontrar casos sujos pode ser interessante", diz Nix ao jornalista, ressaltando ainda a eficácia de armadilhas: "enviar algumas garotas para a casa do candidato (...) Podemos atrair umas ucranianas de férias". 

- Brexit? -

A CA entrega a empresas e organizações políticas estratégias e ferramentas de comunicação cruciais, baseando-se na análise de dados em grande escala ("big data") e em novas tecnologias.

No Reino Unido, a imprensa questiona o papel da empresa no referendo de saída do país da União Europeia em 2016. Em nota, a CA nega "ter trabalhado no referendo sobre o Brexit no Reino Unido".

Nix negou ter trabalhado neste movimento, mas um de seus dirigentes, Arron Banks, disse o contrário.

A CA negou as acusações, embora um antigo funcionário tenha dito que a empresa desenvolveu um aplicativo usado por 270 mil usuários do Facebook, que serviu para conseguir informações sobre eles e seus amigos e desenvolver um programa para prever e influenciar o voto dos eleitores.

A empresa culpa o acadêmico que desenvolveu o aplicativo, o psicólogo da Universidade de Cambridge, Aleksandr Kogan, por ter usado dados para finalidades não previstas.

O Facebook também culpa Kogan por ter infringido as regras, ao passar a informação a terceiros, e garante que seu aplicativo foi eliminado da rede social em 2015.