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'El País':  O propinoduto secreto da Odebrecht na Europa

Papéis mostram documentos usados para abrir as contas no principado de Andorra

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O jornal espanhol El País publicou nesta sexta-feira(10) um dossiê sobre o que chamou de "maior escândalo de corrupção da América", onde descreve conteúdo de documentos secretos que teve acesso.

A Odebrecht, gigante brasileira da construção que protagonizou o maior escândalo de propinas no continente americano, pagou 200 milhões de dólares (650 milhões de reais) em propinas a políticos, funcionários, empresários e supostos “laranjas” de oito países da América Latina através do Banca Privada d'Andorra (BPA), de acordo com relatórios confidenciais da polícia do principado.

Os rastreadores da Polícia Judiciária e de Investigação Criminal de Andorra sob as ordens da juíza Canòlic Mingorance calcularam esse valor depois de examinar as contas de 145 clientes apresentadas ao banco pela maior empreiteira da América Latina. Uma empresa gigante com 168.000 funcionários e tentáculos em 28 países.

O Governo de Andorra interveio em março de 2015 no BPA por um suposto crime de lavagem de dinheiro. O Departamento do Tesouro dos EUA informou que tinha denunciado esta entidade por acolher fundos de criminosos. Andorra, sob pressão internacional, renunciou no ano passado ao sigilo bancário.

O EL PAÍS teve acesso à documentação confidencial que políticos, altos funcionários de Governo, advogados e laranjas do Equador, Peru, Panamá, Chile, Uruguai, Colômbia, Brasil e Argentina apresentaram ao BPA para abrir suas contas secretas. A Odebrecht transferiu para essas contas valores milionários mascarados como serviços que nunca realizou.

A revelação inclui centenas de documentos, como passaportes, cartas de apresentação, questionários confidenciais de clientes e relatórios sobre a avaliação de risco. Também inclui as atas das empresas do Panamá, das Ilhas Virgens e de Belize que os principais protagonistas da trama Odebrecht usavam para operar. Uma bomba política que revelou pagamento de propina em 12 países da América Latina e cujos estilhaços já impactaram os presidentes Michel Temer (Brasil), Juan Manuel Santos (Colômbia) e Danilo Medina (República Dominicana). E também os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Ollanta Humala (Peru), que está preso pelo escândalo.

O BPA de Andorra e o Meinl Bank de Antígua e Barbuda (país do Caribe) foram os principais bancos utilizados pela empresa de Marcelo Odebrecht, atualmente na prisão, para o pagamento de subornos a atores centrais na distribuição de obras públicas.

A construtora reconheceu na Justiça do Brasil que pagou legal e ilegalmente por campanhas eleitorais de presidentes latino-americanos. E que os candidatos favorecidos pela empreiteira executavam, depois, planos de obras milionários.

A polícia de Andorra elaborou um relatório detalhado contendo os nomes de 145 clientes e empresas que abriram contas no BPA por iniciativa da Odebrecht e investiga dezenas de pessoas e empresas que mantiveram operações bancárias através dessa estrutura corrupta _entre os documentos aos que o EL PAÍS teve acesso, não há nomes de políticos brasileiros. São clientes que receberam e fizeram transferências internas diretas para as principais contas sob suspeita. Os investigadores tentam determinar se eles também são parte desta complicada rede de compra de vontades em troca de obras públicas.

As investigações policiais e judiciais revelaram que a Odebrecht usou as empresas offshore Aeon Group e Klienfeld Services para pagar subornos a políticos e funcionários. E que gestores do BPA constituíram empresas no Panamá para esconder os verdadeiros donos das contas bancárias.

A maioria dos clientes do BPA favorecidos pela Odebrecht esvaziou suas contas rapidamente e, às vezes, transferiu fundos para bancos suíços e outros paraísos fiscais, de acordo com os investigadores. Os documentos mostram que, embora os funcionários do Departamento de Complimiento (Compliance) do BPA alertaram para o alto risco das PEP (pessoas politicamente expostas) apresentadas pela Odebrecht, as contas foram abertas mesmo assim.

A seguir estão os detalhes que surgem dos documentos secretos do maior escândalo da América:

Transferência de 2,1 milhões aos pais de um ex-ministro do Panamá

A Odebrecht pagou 2,1 milhões de dólares (6,8 milhões de reais) aos pais de Demetrio Papadimitriu, ex-ministro da Presidência e ex-chefe de campanha do presidente Ricardo Martinelli do Panamá  (2009-2014), de acordo com os documentos confidenciais.

A construtora usou uma de suas empresas instrumentais, Aeon Group, para transferir fundos aos pais do político, María Bagatelas Papdimitriu e Diamantis Papdimitriu, já falecido. Para ocultar o rastro do dinheiro, os familiares do ex-ministro foram muito cautelosos. Colocaram como titulares de suas contas quatro empresas constituídas no paraíso fiscal de Belize. Os Papdimitriu chegaram a receber no BPA desde 2011 um total de quatro depósitos no valor de cerca de dez milhões de dólares (32 milhões de reais). Todas suas contas estavam criptografadas. E nem mesmo os funcionários do banco podiam saber que, atrás de códigos como 490145, se escondia a família do antigo homem forte de Martinelli.

>> El País