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'Recebemos ajuda até do Brasil', diz prefeito de cidade arrasada por terremoto na Itália

Um ano após terremoto, cidade tenta olhar para o futuro

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Amatrice era um próspero vilarejo turístico italiano de 2,5 mil habitantes quando, às 3h36 da madrugada de 24 de agosto de 2016, um terremoto de magnitude 6.0 na escala Richter destruiu boa parte de suas construções e deixou seu centro histórico em ruínas.

    Passado um ano da tragédia, apenas 1,4 mil moradores permanecem na cidade, que tenta olhar para o futuro escondido atrás dos escombros que permanecem em suas ruas.

    A região do Lazio estima que Amatrice e a vizinha Accumoli, também devastada pelo tremor, tenham ainda 1,28 milhão de toneladas de entulhos, talvez o principal entrave para a retomada desses municípios, mas isso não as impede de tentar. "A cidade velha está como depois do terremoto, mas tem outra parte que não. É um mundo que lentamente recomeça, há vida", conta, em entrevista exclusiva à ANSA, o prefeito de Amatrice, Sergio Pirozzi, que se tornou um símbolo das populações afetadas pelo sismo.

    Com posições firmes e críticas duras à reação das instituições ao terremoto, Pirozzi, eleito em 2009, é uma espécie de líder informal do centro da Itália. Suas declarações são sempre contundentes, assim como aquela dada minutos depois do tremor de 24 de agosto: "a cidade não existe mais".

    De fato, as construções medievais que tornaram Amatrice um dos "vilarejos mais bonitos da Itália", título concedido a povoados com uma marcante herança cultural, artística e arquitetônica, foram enterradas no passado pelo terremoto. Até hoje, Pirozzi se recusa a entrar na chamada "zona vermelha", até mesmo para acompanhar visitantes ilustres. Mas há uma nova cidade que começa a surgir.

    Nas últimas semanas, Amatrice ganhou uma área comercial com lojas e serviços, um novo supermercado, um espaço gastronômico com oito restaurantes e até um campo de futebol society. Segundo o prefeito, 50% do dinheiro destinado à recuperação do município já foi entregue e há obras em andamento, como a no ginásio de esportes.

    Porém ainda falta muita coisa para fazer, principalmente na limpeza de Amatrice. "Talvez alguns esperassem um pouco mais de velocidade na remoção dos escombros", diz o prefeito, que passou os últimos 12 meses cobrando a retirada dos entulhos, aos quais chama de "carne viva" de seu povo.

    Essa é a principal crítica que ele faz aos governos da região do Lazio, onde fica o vilarejo, e da Itália. Por outro lado, algumas medidas são comemoradas, como o procedimento do Ministério do Desenvolvimento Econômico que estabeleceu uma isenção fiscal de 100% para as empresas das dezenas de cidades afetadas pela série sísmica no centro do país.

    "Talvez, estando ali [no governo], você não encontre as soluções imediatas", contemporiza Pirozzi.

    Ajuda externa - Ao longo do último ano, diversos líderes internacionais conferiram pessoalmente a destruição causada pelo terremoto em Amatrice, como o papa Francisco, o príncipe Charles e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e muitos países fizeram doações milionárias para a cidade.

    A Alemanha, por exemplo, deu 6 milhões de euros para a reconstrução do hospital do município, enquanto o governo canadense destinou quase 3 milhões. "Mas recebemos ajuda principalmente das pessoas, até mais do que dos governos. Uma coisa extraordinária. Chegaram doações de pessoas até do Brasil, assim como da Argentina e dos Estados Unidos", relata o prefeito, citando três países que possuem numerosas comunidades italianas.

    O relacionamento com personalidades do mundo todo e o papel de porta-voz dos "terremotati" - palavra em italiano que designa aqueles afetados por um terremoto - alçaram Pirozzi, 52 anos, à condição de possível candidato a um assento no Parlamento nas eleições de 2018 ou até mesmo a governador do Lazio pela centro-direita.

    Ele não nega nem confirma essa hipótese, mas garante que ainda deseja retomar sua carreira anterior de treinador de futebol.

    "Não sei se serei candidato, meu sonho é voltar a fazer isso [ser técnico]. Mas agora é preciso trabalhar bem, depois o tempo e a vida... O terremoto nos ensinou que não dá para fazer planos de muito longo prazo", afirma.

    Como técnico, o prefeito militou durante duas décadas nas terceira e quarta divisões do futebol italiano, e seu último clube foi o Trastevere, de Roma, o qual deixou em junho passado devido à impossibilidade de conciliar as duas atividades - desde o terremoto, a equipe já era treinada por seu auxiliar.

    Hoje, assim como os outros 1,4 mil amatricianos que permanecem na cidade, Pirozzi alterna momentos de otimismo e pessimismo quanto ao futuro, mas ressalta que a cidade não tem medo de outros tremores. "As novas casas que estão de pé são ultrasseguras e, do resto, não há mais nada para destruir", diz.