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Catalunha, as raízes salafistas e os atentados na Espanha

Região concentra grupos extremistas e é almejada como califado

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Ripoll e Alcanar são cidadezinhas perdidas entre montanhas que milhões de turistas que visitam Barcelona desconhecem. Mas são destas duas comunidades da Catalunha que vieram os ataques violentos que atingiram uma centena de pessoas nesta quarta (17) na Espanha.

Há anos, especialistas em contraterrorismo lançam alarmes sobre a forte penetração salafista na região, sobretudo nas províncias de Girona, Terragona, Lérida e nas proximidades de Barcelona. Atualmente, 211 mil pessoas de origem marroquina ou descendentes vivem na região e representam a maior comunidade estrangeira local.

O número é quatro vezes maior que a comunidade italiana, que também cresce a cada ano. Lá existem 265 mesquita oficiais, das quais 79, ou seja, quase um terço, são salafistas - movimento ultraconsevador dentro do islamismo sunita e inspira membros de grupos terroristas como Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda.

De acordo com o jornalista e pesquisador espanhol Ignacio Cembrero, autor do livro "A Espanha de Allah", a Catalunha e a Bélgica são as duas zonas europeias com maior incidência de "atividade salafista". Já no livro "O Estado Islâmico na Espanha", os autores Fernando Reinares e Carola Garcia Calvo revelaram que a província de Barcelona "é o principal cenário da mobilização do Isis na Espanha".

Não por acaso, foi na cidade de Cambrils que se reuniram há 16 anos os jihadistas Mohamed Atta e Ramzi bin al-Shibh para preparar detalhes do atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos. Também na Catalunha, as autoridades espanholas prenderam 200 extremistas desde 2015.

Em Ripoll, cidade com apenas 10 mil habitantes, sendo 10% deles de origem marroquina, uma célula terrorista teria sido criada recentemente com a participação dos irmãos Moussa e Driss Oukabir, envolvidos no atropelamento em massa em Las Ramblas, em Barcelona, na tarde de quarta, e na tentativa de ataque em Cambrils, nesta madrugada. Em Alcanar, a célula terrorista, composta por ao menos oito pessoas, usava uma casa como refúgio para preparar bombas de gás. O imóvel sofreu uma explosão na quarta-feira passada, um dia antes dos atentados.

Em um primeiro momento, a polícia espanhola tratou o caso como incidente, mas, agora, há a suspeita de que tenha sido um "acidente de trabalho" no preparo dos ataques terroristas. Quando a van branca atropelou mais de 100 pessoas às 17h locais (12h em Brasília) em Las Ramblas, em Barcelona, muitos jornais se perguntaram o porquê da Espanha virar alvo de um atentado terrorista, já que não lidera nenhuma operação militar em países árabes e contribui com a coalizão militar apenas com apoio logístico e de inteligência.

Mas, há pelo menos duas semanas, seguidores do Estado Islâmico - que assumiu a autoria do atropelamento - haviam feito ameaças nas redes sociais contra o país. Algumas mensagens pediam para os jihadistas "reconquistarem" a região de "Al-Andalus", como era conhecida a Península Ibérica, principalmente a região que hoje corresponde à Andaluzia. O local permaneceu sob domínio muçulmano por quase 800 anos, entre 711 e 1.492. Esse período de aproximadamente oito séculos coincide com a Idade de Ouro Islâmica.