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Eleição no Partido Democrata pode ser crucial para futuro da Itália

Votação definirá líder do maior partido político do país

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O nebuloso cenário político italiano começará a ganhar contornos mais claros no próximo domingo (30), quando o Partido Democrático (PD), maior legenda do país, realizará primárias para escolher seu novo secretário.

Aberta a todos os eleitores italianos e a estrangeiros que vivam regularmente na nação europeia, a votação será realizada em todo a península e no exterior, incluindo 20 cidades do Brasil: Brasília (DF); São Paulo e Campinas (SP); Rio de Janeiro e Nova Friburgo (RJ); Itajaí (SC); Vitória (ES); Belo Horizonte (MG); e Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Encantado, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Nova Bassano, Passo Fundo, Porto Alegre, Serafina Correa e Veranópolis (RS).

As primárias definirão o próximo líder do PD e, por consequência, o candidato do partido de centro-esquerda a primeiro-ministro nas eleições parlamentares previstas para o começo de 2018. Por isso, a disputa pode ser determinante para o futuro da Itália.

"O novo secretário do PD, principalmente se [Emmanuel] Macron for o novo presidente da França, deve liderar, na Itália e também na Europa, um processo de renovação da União Europeia e de fortalecimento da presença italiana na UE", disse, em entrevista à ANSA, o deputado ítalo-brasileiro Fabio Porta, que pertence ao partido.

Quem são os candidatos?

A batalha pela secretaria do PD terá três postulantes, a começar pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi (2014-2016), 42 anos. Ele ocupou a liderança do partido até fevereiro, quando cedeu às pressões de seus rivais internos e renunciou. Também ex-prefeito de Florença (2009-2014), Renzi é o candidato da "situação".

Um de seus adversários é Michele Emiliano, 57 anos, que governa a Puglia, uma das regiões mais pobres do país, desde 2015, depois de ter sido prefeito da capital Bari, entre 2004 e 2014.Crítico de Renzi, Emiliano goza de boa avaliação popular e já prometeu continuar fazendo oposição interna ao ex-premier caso seja derrotado.

Contudo, o principal adversário do ex-primeiro-ministro é Andrea Orlando, 48, o único que cogita não se candidatar ao Palácio Chigi no ano que vem por ser contra o "acúmulo de funções".

Ministro da Justiça desde 2014, ele foi levado ao governo pelo próprio Renzi, mas passou a se opor à recondução do ex-premier ao cargo de secretário do Partido Democrático, embora tenha uma postura mais branda que Emiliano. Orlando é líder de uma ala chamada "jovens turcos", que reúne políticos na faixa dos 40 anos e provenientes da antiga Democracia Cristã.

Quem é favorito?

Segundo uma pesquisa divulgada nesta semana pelo instituto EMG, Renzi tem 65,4% das intenções de voto, contra 21,5% de Orlando e 13,1% de Emiliano. Outro indício do favoritismo do ex-primeiro-ministro é que sua moção de candidatura recebeu mais de 65% dos votos em um sufrágio realizado em março, apenas entre os filiados do PD.

O objetivo de Renzi é vencer as primárias com mais de 50% da preferência, já que, caso ninguém supere esse patamar, a assembleia nacional da sigla pode ser convocada para escolher o novo secretário entre os dois candidatos mais bem votados. Se isso acontecer, os aliados do ex-premier temem que possa ganhar força um movimento pró-Orlando, uma figura menos estigmatizada e que poderia dar novo rumo ao PD.

Como nasceu o PD?

O Partido Democrático foi criado no segundo semestre de 2007, com o objetivo de unir sob o mesmo guarda-chuva diversas alas da centro-esquerda italiana, desde comunistas e socialistas até egressos da antiga Democracia Cristã e sociais-democratas. Sua plataforma é progressista, europeísta e contrária à "antipolítica".

Dos grandes partidos da Itália, é sem dúvidas o mais heterogêneo, com alas ligadas a sindicatos, ao mundo empresarial, à Igreja Católica, entre outras. Também é o único a realizar primárias para escolher seu líder, o que sempre fomentou uma intensa disputa por poder.

Como o partido entrou em crise?

As brigas internas são uma frequente na curta história do PD, mas ganharam força com a ascensão de Renzi à liderança da legenda, no fim de 2013.

Sustentado por um amplo apoio popular, ele passou a pressionar o então primeiro-ministro Enrico Letta, próximo aos caciques do partido, para acelerar as reformas estruturais que se exigia do país. Em fevereiro de 2014, articulou para derrubá-lo e foi nomeado em seu lugar.

Desde então, Renzi vive às turras com as facções "puristas" da legenda, que passaram a ser minoria e a acusar o ex-primeiro-ministro de afastar o PD de suas raízes de esquerda, principalmente ao flexibilizar as leis trabalhistas. "É um momento de disputa, de competição pela liderança, isso é normal.

Não é normal se essas disputas continuarem depois das primárias, porque enfraquem a ação do partido. O importante é que o espírito seja de, a partir do dia seguinte, trabalhar juntos para ganhar a verdadeira eleição, que vai escolher o governo", afirmou o deputado Porta.

Como as primárias no PD podem determinar o futuro da Itália?

O secretário do Partido Democrático é candidato natural ao cargo de primeiro-ministro, em uma provável disputa voto a voto com o antissistema Movimento 5 Estrelas, além de liderar o partido com mais representantes no Parlamento, direcionando os debates dos principais temas políticos no país.