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Renzi promete relançar PD e fala em esquerda do novo século

Ex-premier admitiu ter pensado em aposentadoria após derrota

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De promessa de rejuvenescimento da política italiana a derrotado em referendo popular. Afastado do poder, mas não dos holofotes, o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi confessou em uma longa entrevista ao jornal "La Repubblica" que pretende reformular o Partido Democrático (PD) e relançá-lo a partir das lições aprendidas com seus próprios "erros" de governo. 

Renzi, que renunciou ao cargo após perder nas urnas um referendo de reforma da Constituição da Itália em dezembro, garantiu que "acredita" em seu partido e o lançará com "nova face e valores fortes". 

"Promovi tantas reformas sem entender que servia mais o coração que slides", disse Renzi, ex-prefeito de Florença, que assumiu o governo italiano em 2013 com a promessa de fazer reformas estruturais. A maioria (reforma escolar, trabalhista, nova lei de união civil) ele conseguiu, mas seu mais ambicioso projeto, o de alterar o sistema político e o Parlamento, foi rejeitado em referendo. "Fizemos tudo que deveríamos ter feito", afirmou em entrevista ao jornal, mas admitindo que, nos primeiros dias após a renúncia, pensou em se aposentar da política. 

"Pensei nisso nos primeiros dias. Era uma tentação, um pouco por curiosidade e um pouco por arrogância. Depois pensei melhor, recebi milhares de cartas com mensagens de esperança de um futuro", contou Renzi, explicando que hoje em dia anda de bicicleta e "usa mais os olhos e os ouvidos do que a boca". 

O ex-premier, porém, negou que assumirá um papel de oposição ou buscará vingança de políticos que o abandonaram ou articularam sua derrota no referendo. "Isso são coisas do passado, nós olhamos para frente, não para trás". 

"O que dói é que não consegui fazer as pessoas entenderem o quanto aquela reforma era importante para a Itália. Perdemos uma ocasião que por décadas não se repetirá. Mas ninguém apagará os nossos mil dias de governo, tudo que fizemos, foi extraordinário. E ninguém pode nos tirar o futuro. Temos tempo, energia e paixão para aprender com as derrotas e retomarmos", contou Renzi. 

De acordo com o ex-premier, o PD deve "refletir". "Para que serve um partido hoje? Como a esquerda pode responder à crise? Como devemos mudar? Devemos olhar em nossa volta: na França, os socialistas não estão bem. Na Espanha, vimos como terminou o PSOE. Na Alemanha, Merkel tem 42,9% das intenções. Nos EUA, Obama conseguiu resultados positivos no mercado de trabalho em 75 meses, mas o país votou em Trump. O que isso tudo quer dizer?", questionou.  "Eu acredito que a esquerda pode vencer e convencer. Mas deve entrar no novo século, carregar as tradições do passado e do futuro juntas", afirmou. 

"As novas polaridades são exclusivas e inclusivas, inovação e identidade, medo e esperança. Os excluídos são a verdadeira face da desigualdade, devemos fazê-los se sentir representados", explicou Renzi. 

Atacando o principal grupo opositor da Itália, o Movimento 5 Estrelas (M5S), do comediante Beppe Grillo, Renzi disse que a legenda "é um algorítmo, não um partido". "Aquelas pessoas são divididas, odeiam-se entre eles, entre os grupos de dirigentes, escrevem cartas e fazem assinaturas falsas para provocar guerras. São um algorítmo, não um partido", alfinetou. A entrevista de Renzi foi elogiada pelo ministro das Relações Exteriores da Itália, Angelino Alfano, líder do partido NCD.    

"Estou contente porque, agora, não há confronto, é só construção", disse o chanceler.