ASSINE
search button

'The Wall Street Journal': Arábia Saudita interrompe investimentos nos EUA 

Motivos seriam lei antiterrorismo e vitória de Trump

Compartilhar

Matéria publicada nesta segunda-feira (19) pelo The Wall Street Journal conta que a Arábia Saudita está reavaliando sua multibilionária estratégia financeira nos Estados Unidos devido a mudanças no cenário político americano, incluindo se vai optar por algum outro país onde abrir o capital da sua petrolífera estatal, de acordo com pessoas a par dos planos. Dois episódios — a recente aprovação da legislação que pode permitir que vítimas do terrorismo nos EUA possam processar a Arábia Saudita e a eleição de Donald Trump, um grande defensor dessa proposta — desencadearam a reavaliação por parte de autoridades sauditas e conselheiros externos, dizem pessoas envolvidas nas discussões.

O Journal diz que o fundo soberano da Arábia Saudita suspendeu investimentos nos EUA até que fiquem claras as implicações da proposta e a nova direção que a Casa Branca tomará, diz uma fonte. A abertura de capital da Saudi Arabian Oil Co., a maior petrolífera do mundo, mais conhecida como Aramco, a princípio marcada para 2018, pode gerar mais de US$ 100 bilhões e se tornar a maior da história, o que deixou os bancos disputando o negócio, que pode render US$ 1 bilhão em comissões. Embora as autoridades sauditas ainda não tenham decidido onde listar as ações da empresa, profissionais de bancos dizem que a Bolsa de Nova York, a Nyse, seria o melhor local para uma abertura de capital desse porte.

O diário norte-americano acrescenta que autoridades sauditas e investidores também estão analisando como irão investir os massivos recursos do Fundo Público de Investimento do reino. Autoridades sauditas têm indicado que estão transformando o fundo soberano em um caixa de guerra para investimentos não petrolíferos no exterior — um cofre que só vai crescer com a abertura de capital da Aramco. Um porta-voz do fundo não quis comentar sobre a aprovação da proposta nos EUA. A Saudi Aramco e a Nyse também não comentaram sobre a possibilidade de a abertura de capital ocorrer fora dos EUA. Os sauditas ficaram particularmente alarmados pela legislação federal aprovada em setembro que permite que vítimas dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 possam processar a Arábia Saudita reivindicando indenizações. Familiares das vítimas têm acusado o país de apoiar os 19 terroristas que participaram do ataque, sendo que 15 deles eram sauditas. O país nega ter ligação com os ataques. Uma investigação em 2004 feita por uma comissão independente concluiu que não há evidências de participação do governo saudita.

O risco de ser considerada legalmente responsável pelos ataques fez com que os líderes sauditas temessem que grandes transações nos EUA possam deixar ativos do país expostos a julgamentos legais, dizem pessoas a par dos planos de investimentos. Uma possível mudança na estratégia de investimento saudita nos EUA pode ser tornar um ponto de negociação na relação entre os dois países. Trump apoiou vigorosamente a proposta de lei e considerou vergonhosa a decisão de Barack Obama de vetá-la — o veto foi depois derrubado pelo Congresso. Trump tem afirmado que é um amigo da Arábia Saudita. Ele escolheu para o cargo de secretário de Defesa o general James Mattis, defensor de longa data do país árabe. Mas ainda assim Trump tem questionado o apoio militar americano aos sauditas. Trump também tem se mostrado um defensor do aumento da produção de petróleo nos EUA, em parte por meio da limitação das importações.

Empresas sauditas possuem participações em refinarias dos EUA e estão tentando expandir sua presença nas petroquímicas. Mas Harold Hamm, diretor-presidente da petrolífera Continental Resources Inc. e conselheiro do presidente eleito americano, disse recentemente que a Arábia Saudita não deveria ter autorização para ter unidades petroquímicas próprias nos EUA, já que isso colidiria com os interesses americanos ao processar petróleo saudita em vez de petróleo americano. O governo saudita não quis comentar as declarações de Hamm. A abertura de capital da Aramco na Nyse nunca foi algo confirmado, mas as mudanças nos EUA só têm adiado uma decisão a respeito. A operação é parte da estratégia saudita de reduzir sua dependência do petróleo e diversificar sua economia. Pessoas a par do assunto dizem que o plano seria vender na bolsa 5% da empresa e, com os recursos, fazer investimentos tanto no mercado doméstico como no exterior.

Em junho, lembra o WSJ, que o fundo soberano saudita investiu US$ 3,5 bilhões na Uber Technologies Inc. Segundo uma pessoa a par do assunto, mesmo naquela época o clima político nos EUA já era uma preocupação para as autoridades sauditas, mas pensavam que o veto de Obama não seria derrubado. Por isso, o fundo estava considerando outros grandes investimentos em empresas de tecnologia do Vale do Silício, dizem duas pessoas a par do assunto. Em setembro o Congresso derrubou o veto de Obama e, no mês seguinte, o fundo saudita informou que iria investir US$ 45 bilhões em um fundo gerido pela gigante japonesa do setor de internet e comunicações SoftBank Group Corp. Várias pessoas a par dos planos de investimento do governo saudita dizem que as autoridades do reino optaram pelo massivo investimento no SoftBank em parte devido à aprovação da legislação sobre o terrorismo. Uma fonte diz que esse dinheiro poderia ter sido direcionado para as empresas americanas.

Mas parte dos recursos investidos no SoftBank pode acabar nos EUA. O diretor-presidente do conglomerado japonês, Masayoshi Son, se encontrou com Trump após a eleição, em 6 de dezembro, e disse à imprensa que vai investir US$ 50 bilhões — sendo que parte desse valor virá do fundo que recebeu o dinheiro saudita — nos EUA e criar 50 mil novos postos de trabalho, conclui The Wall Street Journal.