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Especial/2016, o ano dos referendos fracassados

Governos de Reino Unido, Colômbia e Itália sofreram derrotas

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Já se encaminhando para seu fim, o ano de 2016 ficará marcado na política internacional pelo fracasso dos referendos populares realizados em três países.

Por motivos diferentes, os líderes de Reino Unido, Colômbia e Itália convocaram o povo para decidir sobre questões que lhes eram muito caras, mas o resultado acabou não saindo como o esperado.

Brexit

O primeiro deles ocorreu no dia 23 de junho e decidiu sobre a permanência britânica na União Europeia. No ano anterior, o primeiro-ministro David Cameron havia sido reeleito com a promessa de realizar um referendo sobre o tema.

Ele passou vários meses negociando com Bruxelas a mudança do status do Reino Unido dentro do bloco, limitando, por exemplo, o processo de integração europeia e o acesso de cidadãos comunitários ao sistema de bem-estar social do país.

Após uma maratona de tratativas, chegou a um acordo com a UE e, confiante na vitória, convocou a população a se exprimir. Em uma campanha acirrada e marcada pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox por um ultranacionalista, Cameron lutou ativamente pelo "remain" ("ficar"), mas o "leave" ("sair") acabou ganhando com 51,89% dos votos.

Como consequência, Cameron, chefe de um dos governos mais estáveis da Europa, renunciou ao cargo e abriu caminho para Theresa May, que, no papel de primeira-ministra, comandará a "Brexit".

Farc

Presidente desde 2010, Juan Manuel Santos levou anos para costurar um delicado acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e, quando conseguiu, decidiu submeter o tratado a um referendo para lhe dar o devido respaldo popular.

A consulta foi realizada em 2 de outubro de 2016, mas, ao contrário do que as pesquisas apontavam, o "não" obteve 50,21% dos votos. Além disso, a participação foi baixíssima: apenas 37,43% dos eleitores compareceram às urnas. Ainda assim, este talvez tenha sido o único dos três grandes referendos do ano que não acabou tão mal para quem o convocou.

Após o resultado, Santos fez algumas concessões aos críticos do acordo - mas não muitas - e assinou outro pacto com as Farc, desta vez com menos pompa e circunstância. O documento foi levado ao Congresso, que o aprovou no fim de novembro, encerrando o mais longevo conflito armado da América Latina.

Sob protestos da oposição, o acordo não foi submetido novamente a referendo. As negociações também renderam a Santos o Prêmio Nobel da Paz em 2016.

Reforma constitucional

Impetuoso, o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, apostou todo o seu capital político em uma reforma constitucional que reduzia o tamanho do Senado e promovia uma série de mudanças na Carta Magna do país, principalmente na relação entre Estado e Regiões.

Após longas discussões em plenário, conseguiu fazer o projeto ser aprovado no Parlamento e, para garantir a legitimidade da reforma, decidiu propor um referendo. Mas não só isso. Durante todo o ano, o premier prometeu que renunciaria e deixaria a política em caso de derrota.

Pois foi o que aconteceu. No último domingo (4), 59,11% dos votantes deram um contundente "não" à reforma e fizeram Renzi anunciar que se demitiria do cargo - ele chegou a entregar a carta de renúncia, mas o presidente Sergio Mattarella o manteve no posto até a aprovação da lei orçamentária de 2017.

Para piorar, a afluência às urnas foi de 65,47% (68,48% se contabilizados apenas os eleitores que vivem na Itália), o que aumentou o peso da derrota.