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Paul Krugman - NYT: Como manipular uma eleição

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Independente do vencedor da disputa pela Casa Branca, uma coisa é certa, a eleição norte-americana foi manipulada, alerta o Nobel de Economia Paul Krugman em artigo publicado no New York Times nesta segunda-feira (7). Ao longo do artigo, Krugman aponta uma série de situações que teriam ajudado a falsear o processo eleitoral norte-americano, desde medidas para impedir o acesso de uma minoria às urnas, até a forma como a mídia e até o FBI lidaram com os e-mails revelados pelo WikiLeaks. 

"A eleição foi manipulada pelos governos estaduais que fizeram tudo que podiam para impedir que norte-americanos não brancos votassem: O espírito da Jim Crow [de segregação racial] está muito vivo — ou então, talvez traduzido, de Diego Cuervo, agora que os latinos se uniram aos afro-americanos como alvos", alerta o economista, entre suas primeiras considerações.

Krugman destaca que regras relacionadas a documentos de identificação para o voto, "justificadas por demonstradas falsas preocupações com fraude eleitoral", entre outros "esforços sistemáticos" como o fechamento de seções eleitorais em áreas de grande população minoritária, foram adotados para impedir milhares de pessoas de votar. 

O economista aponta a manipulação realizada pela inteligência russa, que estaria por trás dos ataques hackers a e-mails do Partido Democrata, divulgados pelo WikiLeaks. "Nada verdadeiramente escandaloso emergiu, mas os russos julgaram, de forma correta, que a mídia exageraria na revelação de que a maioria das figuras de partidos são seres humanos, e que os políticos estão engajados com a política, de alguma forma condenatória."

O diretor do FBI James Comey, que anunciou no domingo que a descoberta dos novos e-mails não era suficiente para indiciar Clinton, também é lembrado pelo economista. "O trabalho dele é policiar o crime — mas em vez disto ele usou sua posição para espalhar insinuações e influenciar a eleição. Estava ele deliberadamente tentando adulterar a balança eleitoral, ou estava simplesmente intimidado por operadores do partido Republicano? Não importa: ele abusou de sua função, vergonhosamente."

Outras pessoas do FBI também são criticadas por Krugman, figuras que teriam se sentido livres para impulsionar suas preferências políticas. "Nos últimos dias da campanha, agentes pró-Trump estavam claramente conversando sem parar com republicanos como Rudy Giuliani e com jornais de direita, levando alegações que poderiam ou não ter sentido ao ar."

Krugman não deixa de apontar a manipulação que teria sido realizada por mídias partidárias, "especialmente a Fox News", que alardeou falsidades e depois se retratou quase silenciosamente. "Por dias a Fox proclamou as supostas notícias de que a Fox estaria preparando uma acusação contra a Clinton Foundation. Quando finalmente admitido que a história era falsa, a gerência de campanha de Donald Trump comentou presunçosamente, "O dano está feito para Hillary Clinton."

O economista, por fim, aponta outros dois pontos de manipulação, as organizações de notícias mainstream, e a obsessão da mídia com os e-mails de Hillary Clinton. Para Krugman, o fato de algumas empresas de mídia simplesmente terem se recusado a reportar questões policiais favoreceu as mentiras do outro candidato. Sobre os e-mails, o economista ressalta a ausência de evidências de que a secretária de Estado tenha sido antiética. "A coisa toda, em ordem de magnitude, é menos importante que os múltiplos escândalos do oponente — lembrando, Donald Trump nunca lançou suas declarações de renda."

Entre questões que precisam ser lembradas, destaca Krugman, está o fato de que, se Clinton ganhar, será graças aos norte-americanos que esperaram horas em filas para votar, e que prestaram atenção ao que efetivamente importa. "Esses cidadãos merecem ser honrados, não denegridos, por fazerem o melhor para salvar a nação dos efeitos de instituições defeituosas. Muitas pessoas têm se comportado de forma vergonhosa neste ano — mas dezenas de milhões de eleitores mantiveram sua fé nos valores que realmente fazem a América grande."