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Opinião - 'La Nacion': Novos rumos e desafios para o Brasil e para a Argentina

Membro do Cari e do Cippec defende intenção de "eliminar 'linha imaginária'"

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A nova guinada política-econômica no Brasil expressa a insatisfação de importantes círculos políticos e produtivos com o "modelo rígido, de tipo protecionista e relativamente isolado que se seguiu na última década", defende Patricio Carmody em artigo de Opinião publicado no jornal argentino La Nacion nesta segunda-feira (27). Para ele, o Brasil agora adota rumos e caminhos mais flexíveis para o mercado, e com isto coloca desafios importantes para a Argentina, que deveria redefinir sua estratégia comercial e suas prioridades em negociações internacionais, de forma urgente. 

Carmody é membro consultor do Conselho Argentino para Relações Internacionais (Cari) e do Conselho Consultivo do Centro de Implementação de Políticas Públicas para Igualdade e Crescimento (Cippec).

Ele argumenta que o Brasil se mobiliza para que uma "nova 'linha imaginária' não volte a dividir a América do Sul", "ante uma nova divisão do continente", desta vez não em termos de idioma mas de enfoque econômico-comercial -- fazendo referência à atuação do país em relação ao Tratado de Tordesilhas. Carmody destaca que, ao longo de sua história, o Brasil demostrou "notável flexibilidade legal e institucional" quando seu interesse está em jogo. 

"Na política exterior, [o Brasil] aprendeu bem as lições de Alexandre de Gusmão, considerado o 'avô dos diplomatas brasileiros'. Este funcionário do império português negociou habilmente o Tratado de Madrid em 1750, que legitimou as enormes ganâncias territoriais obtidas por Portugal na América, às custas da Espanha. Com grande astúcia e criatividade, deixaria de lado o uso da 'linha imaginária' que, segundo o Tratado de Tordesilhas, de 1494, dividia a América do Sul em duas metades, uma espanhola e uma portuguesa", diz o artigo. 

"Em efeito, por um lado o Mercosul defende importantes níveis de protecionismo, em particular de sua base industrial, estabelecendo muito poucos acordos comerciais. Por outro, a Aliança do Pacífico -- que inclui Chile, Peru, Colômbia, e também o México --, se caracteriza pela sua abertura comercial, que se manifesta através de múltiplos acordos bilaterais com outras nações ou blocos", completa.

Carmody frisa que a intenção de eliminar uma "linha imaginária" se manifestou nas declarações do brasileiro José Serra, "que expressou sua intenção de começar um 'acelerado processo' de negociações comerciais bilaterais". "Serra, experimentado político do partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e com base no estado de São Paulo -- coração industrial do Brasil-, reflete um ponto de vista que transcende o atual governo."

O membro do Cari e do Cippec deu destaque ainda às declarações de Serra sobre "'continuar construindo pontes, em vez de aprofundar diferenças' com a Aliança o Pacífico, uma ideia que coincide com as ações do governo Macri, quer participará da Cumbre de Presidentes da Aliança, no Chile."

Segundo Carmody, recai agora sobre os ombros desta geração a responsabilidade de resolver o que não foi solucionado ao longo de décadas: "a concepção de um modelo de desenvolvimento produtivo com suficiente nível de efetividade e consenso".

"Felizmente, os esforços que se fazem para ir apagando a 'linha imaginária' a nível regional favorecem também uma maior integração com a União Europeia e outras nações ou blocos", conclui Carmody.

>> Confira o artigo no 'La Nacion'