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Após ser derrubado, ex-prefeito de Roma ataca premier

Ignazio Marino acusou Matteo Renzi de eliminar rivais

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Derrubado por uma manobra de sua própria legenda, o centro-esquerdista Partido Democrático (PD), o ex-prefeito de Roma Ignazio Marino publicou em seu Facebook um duro ataque ao primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, líder e secretário da sigla. 

Segundo Marino, o premier poderia e deveria "exercitar maior respeito" pelos seus adversários, ao invés de insistir nos "insultos e na provocação". "É preciso restabelecer a verdade: Renzi queria Roma sob seu controle direto e conseguiu, utilizando seu duplo papel: como secretário do partido, quis que os 19 conselheiros do PD se demitissem; como primeiro-ministro, substituiu o prefeito, legitimamente eleito, por uma pessoa, certamente digníssima, que terá como chefe o próprio primeiro-ministro", escreveu. 

Marino foi afastado automaticamente após 26 conselheiros municipais - cargo semelhante ao dos vereadores brasileiros - renunciarem, sendo 19 do Partido Democrático. Com isso, a Assembleia da capital italiana foi dissolvida. Em seguida, Renzi escolheu o chefe da província de Milão, Francesco Paolo Tronca, para governar a cidade até a realização de novas eleições, na primavera europeia do ano que vem. 

Na Itália, a figura jurídica da província é diretamente subordinada ao Ministério do Interior, que por sua vez responde ao premier. "Assistimos a uma perigosa escalada de poder, que elimina os anticorpos democráticos. A mensagem é clara: quem não se alinha, quem não repete seus slogans como papagaio, é afastado ou até banido", acrescentou o ex-prefeito. 

Essa não é a primeira vez que Renzi é acusado de usar manobras de bastidores para derrubar adversários dentro de sua própria legenda. Após assumir a secretaria do PD, em dezembro de 2013, ele articulou para que o partido retirasse seu apoio ao então premier Enrico Letta - um dos expoentes da ala tradicional da sigla -, provocando sua queda. Logo depois, o mesmo Renzi assumiu o governo italiano. 

Pressionado havia meses para deixar o cargo, o ex-prefeito viu sua situação ficar insustentável após a revelação de que gastara 150 mil euros em 2014 com jantares, hospedagens, reuniões e cerimônias oficiais. Em depoimento espontâneo ao Ministério Público de Roma, Marino alegou que muitas assinaturas em recibos são falsas e que jamais usou dinheiro público para fins privados. 

Antes disso, ele vinha sendo criticado devido ao processo "Mafia Capitale" ("Máfia Capital"), que desbaratou um grande esquema de associação mafiosa dentro da Prefeitura, derrubando inclusive alguns membros de seu gabinete. Apesar de não estar envolvido no caso, Marino foi questionado por ter nomeado assessores mais tarde acusados de corrupção. 

Seus aliados dizem que os movimentos contra o prefeito se devem justamente às investigações contra o esquema conduzidas durante seu mandato. Marino chegou a protocolar um pedido de renúncia, mas acabou voltando atrás na semana passada, provocando a demissão em massa de conselheiros municipais do PD. (ANSA)