ASSINE
search button

Papa diz que pedofilia de religiosos é 'quase um sacrilégio'

Pontífice voltou a Roma após viagem por EUA e Cuba

Compartilhar

O papa Francisco chegou na manhã desta segunda-feira (28) a Roma - após visitar Cuba e os Estados Unidos - e falou sobre diversos temas polêmicos com os jornalistas que acompanharam o voo. Entre eles, o Pontífice afirmou que os crimes sexuais cometidos por religiosos são "quase um sacrilégio", reforçando o discurso que manteve, especialmente, durante sua passagem pelo solo norte-americano.   

 "Os abusos estão em todos os lugares: nas famílias, nas escolas, nos ginásios. Mas, quando um sacerdote comete um abuso é gravíssimo porque sua vocação é fazer crescer aquele menino e aquela menina para o alto, para o amor de Deus. Ao invés, com o abuso, ele cortou tudo isso e é quase um sacrilégio. Ele traiu o chamado do Senhor", disse.   

Jorge Mario Bergoglio ainda comentou sobre quem acoberta esse tipo de situação, afirmando que eles "também são culpados" porque isso é uma "coisa muito feia". Questionado sobre as palavras que utilizou durante o encontro com cinco vítimas de pedofilia na Igreja, na Filadélfia, o sucessor de Bento XVI foi enfático.    

"As frases de conforto não significam dizer 'fique tranquilo, isso não é nada'. Não é assim. O fenômeno dos abusos foi muito ruim e eu imagino o quanto eles choraram. Este é o sentido das palavras", destacou. Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, o Papa exprimiu "dor e vergonha" pelas feridas provocadas por membros do clero e renovou seu compromisso de que todas as pessoas envolvidas nestes casos serão tratadas com justiça.    Uma das primeiras coisas que fez ao assumir o Pontificado foi iniciar as análises para formar uma comissão específica para verificar e dar encaminhamento às denúncias nesse sentido. No início deste ano, a equipe formada por religiosos e cristãos leigos divulgou seu primeiro relatório sobre o tema.    - Imigração: Falando sobre a crise imigratória que atinge a Europa, o líder da Igreja Católica criticou a construção de muros e disse que todos eles "um dia cairão". "Todos sabem como os muros terminam: todos caem seja hoje, amanhã ou daqui a 100 anos. Isso não é solução. O problema permanece, mas com muito mais ódio", ressaltou o Pontífice.    

Para Bergoglio, "é preciso ser inteligente" neste momento, "quando vem toda essa onda imigratória e não é fácil encontrar a solução". O Papa voltou a afirmar que o diálogo é fundamental para encontrar saída para o problema e que "construir pontes" é sempre a melhor solução.    O líder católico se referia, especialmente, à Hungria. O governo construiu muros na fronteira com a Sérvia e a Croácia e ameaça fazer a obra em outros pontos fronteiriços por dizer que não dá conta de receber tantos imigrantes e que seu país quer "se manter cristão". A rota pelo país é muito utilizada, principalmente, por sírios e iraquianos que fogem das guerras civis que perduram anos.    

Visita à China 

Durante a coletiva de imprensa no voo, Francisco revelou ainda a vontade de visitar a China, país com que o Vaticano mantém complicadas relações há décadas.   

 "Gostaria muito de ir para a China. Eu amo o povo chinês, os quero muito bem. Fico feliz em saber que há uma possibilidade de ter um bom relacionamento com a China. Temos contatos, nos falamos e precisamos andar para a frente", contou Bergoglio.    

Para o líder religioso, o país é "uma grande nação que leva ao mundo uma grande cultura" e que ter os chineses "como amigos que têm tantas possibilidades de fazer bem, seria uma alegria".    A relação entre os dois Estados é complicada há décadas e, nos últimos dois anos, têm conseguido dar sinais de melhoras. A situação chega a ser tão delicada que é o governo chinês quem indica quais bispos católicos assumirão as igrejas locais e não o Vaticano. Em janeiro deste ano, declarações públicas mostraram que os dois lados tentam dialogar, mesmo que dificilmente. Em um sinal de aproximação, a TV chinesa passou pela primeira vez na história, em agosto deste ano, parte do "Angelus" do Papa, em que ele lamentava as mortes na explosão do porto de Tianjin, que deixou mais de 100 mortos. - Divórcio: O Papa também foi questionado sobre as mudanças para a nulidade do casamento católico e ressaltou que isso "não é o divórcio católico".    

"Na reforma dos processos, eu fechei a porta à via administrativa, que era aquela que levava o divórcio. Aqueles que acham que se trata de um divórcio católico, erram. O matrimônio é um sacramento, indissolúvel e isso a Igreja não pode mudar. É doutrina. O não estado de matrimônio, onde tem a nulidade, é que ele não existiu. Mas, se existiu, é indissolúvel", ressaltou.    As mudanças foram anunciadas no dia 9 de setembro e são uma prévia do Sínodo da Família, que começa no próximo dia 4 de outubro. Segundo o Papa, essa mudança foi um pedido da maior parte dos padres e bispos que foram ouvidos pela Igreja sobre os problemas que atingem as paróquias em todo o mundo.    Bergoglio voltou de sua décima viagem internacional após nove dias. Ele participou de celebrações com centenas de milhares de pessoas nas duas nações e ainda discursou na Assembleia das Nações Unidas (ONU).