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'NYT': Em um Nepal já conturbado, surge a imagem do desespero

País sofre com desemprego, infra-estrutura precária e ausência de governo, diz New York Times

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O jornal norte-americano The Nw York Times publicou nesta segunda-feira um artigo sobre as dificuldades sócio-econômicas que o Nepal vem enfrentando nos últimos anos, e que se agravaram agora com o terremoto que já matou milhares de pessoas.  

“O país de 27 milhões de habitantes estava mergulhado numa desordem política e econômica bem antes do violento terremoto de sábado destruir prédios e vidas. E parece certo que o desastre natural vai dificultar as tentativas de consertar as fendas abertas por décadas de guerra e paralisia política”, diz a matéria de Gardiner Harris.

O jornalista observa que o primeiro-ministro do Nepal, Sushil Koirala, estava fora do país quando a tragédia aconteceu, algo emblemático que mostra a fraqueza do estado no país, particularmente devido ao fato de que parte da viagem do político foi feita para realizar exames de saúde.

“Em entrevistas nos últimos dois dias, nepaleses afirmaram que foram forçados a lidar com a tragédia com quase nenhum governo para ajudá-los e reclamaram que seus líderes deixaram o país vulnerável, com tolerância a obras precárias e normas de desenvolvimento”, escreve o jornalista. 

Ele lembra que o país tem um vasto potencial hidrelétrico, mas o fornecimento de eletricidade tem sido fraco há tanto tempo que as luzes costumam ficar apagadas por até 14 horas por dia em lugares como Katmandu. Muitos locais ainda não voltaram a ter energia desde o terremoto.

A indústria caiu ao longo dos anos e agora representa meros 6% da economia do país. A pobreza é endêmica, a poluição do ar sufoca, e as estatísticas de saúde são terríveis.

Com poucos empregos, os jovens do país se tornaram parte de um êxodo moderno. A escala de emigração tem impressionado economistas durante muito tempo, e ainda assim continua a crescer.

Em média, cerca de 1500 nepaleses deixaram o país oficialmente para encontrar trabalhos temporários a cada dia no ano de 2014, de acordo com o governo do Nepal. Estima-se que não oficialmente até mais pessoas deixem o país para ir à Índia; porque a fronteira não é fiscalizada, ninguém sabe qual é o número exato.

Em algumas temporadas, um quarto da população do Nepal pode estar trabalhando fora da fronteira, estimam economistas e autoridades trabalhistas.

Quase nenhum outro país tem uma parcela maior de sua riqueza de trabalhadores emigrantes. Grande parte da mão de obra do Nepal está trabalhando na construção civil no Oriente Médio e em outras partes da Ásia.

No momento, a Índia — o vizinho gigante do Nepal — lidera os esforços de ajuda, e no domingo o ministro indiano das relações exteriores, S. Jaishankar, anunciou que 13 aviões militares estavam sendo usados para transportar 10 toneladas de cobertores e tendas, 22 toneladas de comida e 50 toneladas de água. A Índia também enviou seis helicópteros e 10 equipes de ajuda.

Ainda não está nem um pouco claro se esses esforços vão ser suficientes, ou bem-vindos. Muitos nepaleses expressam profunda ambivalência quando falam da relação com a Índia, sentindo que o país vizinho durante décadas tem alternado intromissão e negligência. Essa é uma razão crucial pela qual o Nepal tem recusado nos últimos 50 anos a aceitar as ofertas de ajuda da Índia ao desenvolvimento ou ligações mais próximas.

“Por enquanto, permanece a dúvida se os dois temas da história moderna do Nepal — perseverança pessoal e desordem pública — vão desempenhar um papel importante no momento em que o país luta para se recuperar, e em seguida, se reconstruir”, conclui o artigo do New York Times.

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