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Para especialistas, esquerda francesa está fragmentada e vitória da direita foi protesto

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O partido de Nicolas Sarkozy, União por um Movimento Democrático (UMP), considerado de centro-direita, venceu o segundo turno das eleições francesas neste domingo (29). Com o resultado, o partido deve aumentar em mais de 50% sua representação no governo. A expressiva votação representa, para o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcelo de Almeida Medeiros, um voto de protesto contra a atual administração socialista. Entretanto, o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Reginaldo Moraes, a direita pode "impor ainda mais sacrifícios à classe trabalhadora em prol da recuperação da economia".

Ideologias conservadoras têm ganhado espaço em vários países desde o ano passado, em meio a uma das piores crises econômicas que a Europa tem enfrentado. Os dois especialistas entrevistados pelo Jornal do Brasil avaliam que esses partidos "têm ganhado força baseados em um discurso nacionalista que parece responder a inquietações de boa parte do eleitorado", e também porque "se apoiam em sentimentos xenofóbicos que são fomentados na população quando há uma crise", nas palavras de Marcelo Medeiros e Reginaldo Moraes, que completou dizendo que "entretanto, sua política de recuperação da economia impõe perdas para as classes mais baixas". 

O UMP esteve no comando do país recentemente, entre os anos de 2007 e 2012, liderado por Sarkozy. À época, o presidente esteve envolvido em polêmicas e foi acusado de crimes como tráfico de influência e financiamento ilegal de campanha, chegando a ser detido em julho do ano passado. Entretanto, em setembro do mesmo ano, o Tribunal de Apelação de Paris suspendeu o processo contra o ex-presidente. Reginaldo Moraes considera que Sarkozy  "foi muito conservador, chegando a ser reacionário em alguns pontos. Durante seu governo, a França fechou postos de trabalho e entrou em recessão".

Por outro lado, o Partido Socialista, do atual presidente François Hollande, também perde popularidade em tempos de altas taxas de desemprego no país. No mês de fevereiro, o Ministério do Trabalho francês divulgou que 10,5% da população está fora do mercado de trabalho, o que equivale a 5,5 milhões de pessoas, apesar de os números apresentarem queda população jovem (descréscimo de 0,3% em relação a janeiro). O professor da UFPE considera que "a administração socialista não tem sido capaz de resolver os problemas internos, nem tampouco os referentes à União Europeia e ligados à arena internacional".

Apesar de grande atenção dispensada pela mídia nestas eleições, o professor diz que estes resultados "não significam, necessariamente, que nos próximos escrutínios esta tendência se repita. Há que se considerar que, sendo um país unitário/centralizado, as eleições departamentais não são consideradas, pelos eleitores, como relevantes". Fato este verificado pela alta abstenção recorde neste domingo: 50% dos franceses não foram às urnas.

Fragmentação da esquerda francesa

Os cientistas políticos concordam que a esquerda francesa está fragmentada. A maioria dos departamentos conquistados pelos socialistas está localizada no sul do país, no entanto, os conservadores recuperaram a região de Corrèze, que tradicionalmente elegia candidatos da direita, mas nas últimas eleições presidenciais deu a maioria dos votos para Hollande. Para Reginaldo de Moraes, "a classe trabalhadora foi se enfraquecendo nos últimos anos, principalmente no que diz respeito aos sindicatos e à base partidária, e isso se deu por conta das diversas reformas políticas que ocorreram no país". 

Medeiros destaca que há "incapacidade de convergência dos partidos de esquerda, aliadas a uma forte abstenção, que contribuem para um cenário desfavorável para tal ideologia no país. Além disso, Fançois Hollande carece de legitimidade dentro de seu próprio partido".

O conservadorismo no Brasil

Os especialistas concordam com um ganho de espaço do conservadorismo brasileiros, como visto nas últimas eleições presidenciais. Até mesmo dentro do PSDB, comenta Reginaldo, "a ala mais conservadora ganhou espaço, representada por Aécio Neves". Já Marcelo completa dizendo que isso se deu em grande parte "desencantamento em relação ao Partido dos Trabalhadores, outrora um partido de oposição fortemente marcado por um discurso em prol da ética e contrário a práticas de corrupção e que nos últimos anos vê-se envolvido em escândalos fartamente divulgados pelas mídias nacionais e internacionais".

*Do programa de estágio do JB