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Em editorial, 'Le Monde' pede união contra a extrema-direita na França

Jornal diz que é preciso atacar o programa de governo da Frente Nacional e denunciar os perigos

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O jornal francês Le Monde publicou um editorial antes das eleições municipais realizadas neste domingo (29/03), onde alerta sobre a ascensão da extrema-direita no país, representada pelo partido Front National (Frente Nacional).

“Não haverá nenhuma manifestação contra o FN. Porém, o partido de extrema-direita obteve mais de 25% das vozes no primeiro turno das eleições regionais, dez meses depois de ter terminado na liderança das eleições européias de 2014. E como a sociedade francesa reagiu a esse resultado sem precedente em eleições locais? Através de uma forma de indiferença… Na noite do primeiro turno, domingo dia 22 de março, alguns até pareceram aliviados em constatar que a Frente Nacional estava longe dos 30% que algumas pesquisas haviam previsto”, diz o texto. 

É um erro. A situação é bem mais grave do que no dia 21 de abril de 2002, quando Jean-Marie Le Pen havia chegado ao segundo turno da eleição presidencial com 17% das vozes. Primeiro porque na época a sociedade havia mostrado sua rejeição a um movimento xenófobo, anti-europeu, retrógrado, perigoso. Nós – cerca de dois milhões de pessoas – marchamos no dia 1º de maio de 2002. E havíamos votado massivamente no dia 5 de maio: 80 % das vozes a favor do candidato republicano, Jacques Chirac. Nada disso tudo em 2014 ou em 2015: os republicanos, tanto de direita quanto de esquerda, assistem à ascensão do FN, parados no muro, entre passividade e pânico.

Em seguida porque Jean-Marie Le Pen, na época, não visava a vitória de fato, se contentando em conduzir suas campanhas presidenciais sem uma estratégia de verdade, sem um trabalho de implantação a fundo. Desde a passagem do bastão para sua filha, em janeiro de 2011, a situação é radicalmente diferente: Marine Le Pen quer conquistar o poder. E ela tem os meios.

Sua estratégia é clara: colocar-se no centro dos debates. Foi bem sucedida, a ponto de dominar a agenda midiática e política há três anos. A outra seria a de passar a imagem de um partido que se banaliza. A operação funciona e as barreiras vão cedendo, uma atrás da outra. E a terceira é de se implantar nas eleições locais. Isso está em curso, com progressões históricas.

A situação é bem mais grave do que no dia 21 de abril de 2002. Porque o surgimento do FN desestabiliza os equilíbrios da Quinta República assim como ameaça os fundamentos da sociedade e da nossa economia. Manuel Valls e Nicolas Sarkozy, cada um de seu jeito, entenderam bem, evocando o risco mortal para seu respectivo partido de uma eliminação desde o primeiro turno de uma eleição presidencial.

Conhecemos as causas dessa situação. Aquelas que dizem respeito a um sistema político que está no seu limite, e é marcado pela abstenção em massa, o descrédito no discurso político, as promessas não cumpridas, a esclerose do mundo político. E aquelas da própria sociedade francesa: esse grande medo do desmantelamento das classes médias, o profundo ódio das classes populares, o sentimento difuso de que a França perdeu seu lugar e que a Europa está ameaçada pela ascensão dos países emergentes ao status de potência, além das fraturas do mundo muçulmano.

O que fazer? Se mobilizar domingo e votar na direita ou na esquerda, contra o FN, é evidente. Mais isso não basta. É preciso considerar de agora em diante que o FN pode, um dia, ganhar uma eleição presidencial. É preciso atacar seu programa, metodicamente, para mostrar todos os perigos. É o papel das mídias, dos intelectuais, especialistas, mas isso tampouco basta.

A direita tem uma responsabilidade particular. É ela quem deve propor um projeto de alternância ao poder vigente. Ora, há três anos, a UMP (União por um Movimento Popular) é corroída por guerras internas, a recusa de analisar as razões de suas derrotas e a incapacidade de trabalhar sobre os meios de transformar a França. Qual projeto? Qual programa? Qual método? É na oposição que se prepara uma eventual alternância, a direita já perdeu muito tempo. Republicanos de direita e do centro, ao trabalho!

A esquerda tem ainda menos escolha. Num momento em que François Hollande está tentado pelo imobilismo, o governo deve, ao contrário, prolongar as reformas, aprofundá-las, amplificá-las, para modernizar nossa economia, torná-la mais competitiva. Com mais de 5 milhões de desempregados, eles não têm escolha. A não ser de assumir o risco – e a responsabilidade – de abrir as portas do Palácio do Eliseu à Frente Nacional.

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