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Afinidades de Dom Helder com papa Francisco

Ex-arcebispo de Recife também lutou contra pobreza

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A postura humilde do papa Francisco, escolhido pelo conclave na última quarta-feira (13), dizendo desejar “uma igreja pobre, para os pobres”, além de sugerir uma uma possível mudança nos costumes da Igreja Católica, remete ao ex-arcebispo de Recife, Dom Hélder Câmara, humanista que lutava contra a pobreza e sonhava com uma Igreja de tradições mais simples.

Cearense, nascido na cidade de Fortaleza  em 7 de fevereiro de 1909, dom Hélder foi ordenado sacerdote em 15 de agosto de 1931 com apenas 22 anos, recebendo uma autorização especial da Santa Sé 24 meses antes do prazo estabelecido.

Com 27 anos foi para o Rio de Janeiro e se espantou com a pobreza das favelas, estampada nas encostas dos bairros mais nobres do Rio, então capital da República. O jovem bispo continuou na cidade seu trabalho com os pobres e em 1956 fundou a “Cruzada São Sebastião”, cuja finalidade era urbanizar as favelas, dando moradia decente aos favelados. Da iniciativa surgiram os primeiros conjuntos habitacionais na cidade.

Em 1952, aos 43 anos, foi ordenado bispo.  Acreditava que a Igreja e o processo de evangelização só se consolidariam caso os bispos se reunissem regularmente para trocar ideias e compartilhar conhecimentos. Buscou, então, entre os cardeais do Vaticano permissão para fundar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Conseguiu e se tornou o primeiro secretário-geral da CNBB. Mais tarde também ajudou a fundar a Conferência Episcopal Latino-americana (Celam).

Apesar da fala mansa e da baixa estatura, o carisma fazia o arcebispo de Recife crescer diante dos fiéis. Já na década de 90 lançou a campanha Ano 2000 sem Miséria na Fundação Joaquim Nabuco. Dom Hélder não se conformava que, dois mil anos depois do nascimento de Jesus Cristo, tantas pessoas ainda vivessem de forma miserável.

Tanto dom Hélder como o papa Francisco se formaram em Teologia e Filosofia e se tornaram conhecidos pela luta em defesa da justiça social. Os primeiros dias do primeiro papa latino-americano como líder da Igreja Católica também foram marcados pela simplicidade.

Nesta segunda-feira(18) um porta-voz do Vaticano afirmou que o Anel de Pescador de Francisco – símbolo do poder pontifício -, será de prata e não de ouro como usaram os últimos papas.

Dom Hélder escreveu o poema Loucura Sagrada sobre um papa que teria enlouquecido e saído pelas ruas espalhando pelos pobres o dinheiro todo do Banco do Vaticano. O poema termina assim: Que vergonha para os cristãos!/ Para que um Papa viva o Evangelho/ Temos que imaginá-lo em plena loucura.

Não chega este ponto, porém a simplicidade do papa Francisco, pelo menos de início, se assemelha aos ideais de dom Hélder Câmara.