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Sucessão de Chávez não deve gerar instabilidade na AL, dizem especialistas

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A transição política na Venezuela, ocasionada pela morte do presidente Hugo Chávez na última terça-feira, não deve provocar mudanças drásticas nas relações políticas e econômicas com os países da América Latina, incluindo o Brasil, de acordo com especialistas consultados pela ANSA.

Para o professor da Unesp e coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), Luis Fernando Ayerbe, a maneira como Chávez e as autoridades venezuelanas governaram nos últimos meses fez com que "tudo fosse se encaminhando" para a sucessão presidencial.

"E os governos da América Latina, como Argentina, Brasil, Uruguai e Bolívia, têm se mostrado unidos e dando apoio para que tudo ocorra bem nessa transição", diz Ayerbe.

Analisando a atual conjuntura da Venezuela, o especialista afirma que o momento é favorável para uma vitória do partido de Chávez, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), nas eleições que devem ser convocadas em 30 dias. Isso porque o PSUV conseguiu reeleger Chávez em outubro do ano passado, mesmo com a imprensa internacional já noticiando o delicado estado de saúde do mandatário, que foi diagnosticado com câncer na pélvis em meados de 2011.

O cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Arnaldo Cardoso, por sua vez, relembra que a morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner em outubro 2010 alavancou a campanha eleitoral de sua mulher, a atual mandatária Cristina Kirchner, reeleita em primeiro turno após um ano do falecimento do marido.

Portanto, segundo ele, "os partidários e apoiadores de Chávez vão tentar incrementar os mecanismos de apoio popular" através da comoção gerada pela morte do líder e a qual pode ser fundamental para a vitória do PSUV nas eleições.

Caso o PSUV continue no poder, os especialistas acreditam que os chavistas utilizarão o legado dos programas sociais de Chávez e manterão as mesmas linhas de governo.

"Atualmente o Brasil tem um superávit comercial com a Venezuela devido à exportação de alimentos, principalmente. Nessa perspectiva, o Brasil teria interesse na manutenção da relação, pois é favorável ao país essa orientação ideológica do governo venezuelano", disse Cardoso.

Para Cardoso, o cenário seria diferente com a vitória nas eleições de uma oposição mais liberal. "Um governo liberal tentaria estimular a economia venezuelana, reduzindo o superávit comercial, a dependência do petróleo e o desabastecimento interno, ainda mais como recém-membro do Mercosul", afirma.

A curto prazo, porém, "o Brasil continua e continuará tendo parceria estratégica com a Venezuela, deve continuar apoiando a soberania das suas decisões políticas e deve se ocupar de manter viva a situação superavitária, talvez com uma balança mais favorável com uma Venezuela menos dependente do petróleo", disse Daniel Chaves, Professor da Universidade Federal do Amapá e coordenador do Círculo de Pesquisas do Tempo Presente (CPTP/UNIFAP).