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Quatro papas já abriram mão de seus pontificados na história da Igreja

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A renúncia de Bento XVI é a quarta de um papa ao seu pontificado. Antes dele, outros três "sucessores de Pedro" deixaram o Vaticano com vida, através da abdicação do cargo.

Ponciano, em 235

Eleito papa em 21 de Julho de 230, Ponciano assumiu a Igreja em pleno cisma provocado pelo teólogo Hipólito de Roma, que vinha atacando aos papas antecessores - Zeferino, Calisto I e Urbano. No papado de Ponciano, porém, foi possível reaproximar Hipólito da Igreja. Mas, com a perseguição aos cristãos pelo imperador Maximino Trácio, Hipólito e Ponciano foram exilados juntos em 235, para a Sardenha, ocasião em que o Papa renunciou ao cargo, para não deixar a Igreja sem um chefe e os católicos sem uma liderança.

Celestino V, 1924 

A segunda renúncia foi ocorrer com Celestino V, que viveu no século XIII (1215-1296). Ele deixou o cargo após cinco meses de papado - de 5 de julho a 13 de dezembro de 1294. Depois de morto, foi santificado e tornou-se São Celestino.

Pietro Angeleri, conhecido também como Pietro da Morrone, era um frade beneditino radicalmente espiritualista e um asceta (com um modo de vida austero, dedicada à perfeição espiritual) que vivia em reclusão até ser eleito no Conclave.

Ele foi escolhido para substituir o papa franciscano Nicolau IV, que morreu em 1292. O processo de escolha do sucessor foi demorado, estendendo-se por nada menos do que dois anos, mesmo contando apenas com 12 cardeais eleitores. O Conclave chegou a ser interrompido com um surto de peste que vitimou um dos cardeais.

A escolha ocorreu em 5 de julho de 1294. Contra todas as expectativas, e por insistência e pressão de Carlos II, rei de Nápoles, saiu eleito Pedro Morone. Nascido de uma família de modestos camponeses, Celestino V viveu por muito tempo como eremita sobre o monte Morrone, perto de Sulmona, daí ele ter sido conhecido como Pietro da Morrone.  Ali, fundou uma congregação de monges que receberam o nome de celestinos. O papa seguinte aboliu-a.

Ao assumir o papado, ele até então não tinha estado em Roma e acabou não sendo hábil politicamente, se deixando influenciar pelo rei de Carlos II e por seu filho, Carlos Martel de Anjou. Chegou a se mudar para a região de Nápoles, aceitando favores da realeza, onde também distribuiu favores e cargos.  Foi considerado fraco e submisso, desajustado para a missão pontifícia.

Tudo isto fez com que sofresse fortes pressões, logo após assumir o pontificado. A maior delas partiu do cardeal Benedicto Gaetani, que 11 dias após a renúncia, em pleno 24 de dezembro, foi nomeado o Papa Bonifácio VIII.

Para afastar o perigo de um cisma, Bonifácio VIII mandou fechar Celestino, até a morte, no castelo Fumone, em uma vida reclusa, cercando-o de todo o respeito. Mas também se levantou a hipótese, jamais confirmada, de que tenha sido assassinado. Sua santificação ocorreu em 1313, pelo Papa Clemente V.

Gregório XII, 1416

Em 1416, o papa Gregório XII, após cinco anos no cargo, diante de um enorme cisma na igreja, que ficou conhecido como o Grande Cisma do Ocidente, quando se chegou a ter  três papas simultaneamente, propôs a sua renúncia como forma de se chegar a um entendimento, desde que os dois antipapas - Bento XII e João XXIII - também o fizessem. Foi, a partir desta renuncia, que se extinguiu o cisma no seio da Igreja Católica. Em reconhecimento ao seu gesto, o próprio Concílio que aceitou sua renúncia o convidou a assumir o bispado do Porto e a representação pontifícia da região italiana do Marche. Gregório XII morreu um ano depois de renunciar.


Nota da Redação: Segundo artigo de Frei Betto, publicado em O Globo, nesta terça-feira (12/02), mais dois papas renunciaram ao pontificado: Bento IX (em 1045) e Gregório VI (em dezembro de 1046). Ele porém, não cita a renúncia de Ponciano.