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Mesmo favorito, poucos acreditam em mudanças com eleição de Obama

Analistas vêem Mitt Romney como uma ameaça nas relações econômicas com a China

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Sem a aclamação popular que tomou conta do mundo há quatro anos, quando foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama ainda é o preferido por especialistas brasileiros nas eleições desta terça-feira (6) contra o republicano Mitt Romney. Poucos, porém, acreditam em alguma mudança efetiva no cenário político-econômico para o próximo mandato.

"O ritmo de crescimento ainda é baixo, ele precisa ser mais agressivo nas políticas de incentivo, o que acredito que acontecerá nos próximos anos", analisa o cientista político Olavo Furtado, professor de Relações Internacionais da escola de negócios Trevisan.

Apesar de não ser "ideal", Obama ainda é o melhor candidato, principalmente nas discussões internacionais, acredita o sociólogo Williams Gonçalvez, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

"O problema de Romney é que ele ainda acredita nos Estados Unidos como hegemônico, ele tem uma visão de mundo muito parecida com o Bush, conflitante, de querer impor", avalia.

Brasil e América Latina

Até a última pesquisa, os candidatos estavam empatados na intenção de votos, mas Obama liderava a corrida pelos colégios eleitorais. Se a eleição acontecesse no Brasil, o democrata venceria com cerca de 90% dos votos, segundo pesquisa da BBC. Alguns especialistas, no entanto, apontam que sua vitória não será necessariamente positiva para o país.

"Os democratas tendem a ser mais protecionistas, pois eles querem falar com o operário, que sofre com o baixo desemprego. Porém, isso não é relevante para o Brasil neste momento, qualquer candidato que ganhe não vai mudar em praticamente nada as relações bilaterais dos países, pois elas estão muito consolidadas", afirma Gonçalves.

Para Diogo Cunha, professor do Ibmec, Obama "abandonou" a América Latina como um todo, e o principal benefício que pode oferecer para a região é a postura em relação às políticas migratórias, que tendem a ser mais tolerantes. "Ele é mais razoável mesmo, e a opinião pública está do lado dele", afirma.

China

O problema está na conturbada relação com a China, concordam os especialistas. As críticas em relação ao crescente poder e influência do gigante asiático incomodam, mas a dependência comercial dos Estados Unidos, que tem no país o seu segundo maior parceiro, deixam a situação ainda mais complicada.

"Se o Romney declarar guerra cambial ao asiático a coisa vai ficar muito ruim", afirma Cunha. "Esta é a principal característica negativa do republicano".  

E pelas suas falas, os especialistas devem mesmo ficar atentos ao candidato. Em um recente evento de campanha, ele afirmou que os chineses estão "jogando muito agressivamente com a moeda". “Temos que dizer a eles: vocês não podem continuar a manter o valor da sua moeda tão baixo", acrescentou.

A mudança de poder no gigante asiático, que também ocorre nesta semana, será "linear e previsível" e pouco afetada pelo resultado desta terça (06) nos Estados Unidos. "A China tem um projeto muito claro e objetivo de desenvolvimento e nada vai mudar isso", acredita.

Nem mesmo os Estados Unidos? "Não, nem eles. A China já se tornou mais influente. Menos poderosa, mas ainda sim, mais influente", conclui Gonçalves.