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Brasileiro de 36 anos é eleito deputado na França

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Entre os 577 deputados eleitos nas últimas eleições legislativas na França, somente um sabe o que é um chimarrão e fica sempre de coração dividido nos duelos França x Brasil, em campo. Gaúcho de Porto Alegre, Eduardo Rihan-Cypel, 36 anos, acaba de conquistar uma cadeira na Assembleia Nacional francesa, pelo Partido Socialista.

Por ironia do destino, aliás, foi em 1998 - ano em que os franceses bateram os brasileiros na final da Copa do Mundo - que Cypel obteve a naturalização no novo País. O brasileiro vive na França desde os 10 anos, quando deixou o Rio Grande do Sul ao lado dos pais e os dois irmãos. Nunca havia se engajado nas organizações estudantis ou sindicais, até que, aos 26 anos, uma enorme decepção marcaria o primeiro passo do jovem na política: a derrota dos socialistas face ao candidato da extrema direita nas eleições presidenciais de 2002.

Na época, ele cursava mestrado em Administração Pública na Sciences Po - uma das instituições mais respeitadas do País -, após concluir o curso de filosofia. "Achei que eu tinha o dever de ajudar o PS a se renovar, para responder à profunda crise em que se encontrava após aquela triste derrota", lembrou, em entrevista nesta segunda-feira.

A distância entre a militância e um papel protagonista na vida do partido foi curta: apenas seis anos depois, em 2008, Cypel era eleito para vereador na cidade de Torcy, na grande Paris. Agora, conseguiu a façanha de derrubar uma deputada de direita que há 10 anos ocupava a vaga pela circunscrição eleitoral. A estreia no lado esquerdo do Palácio de Bourbon acontece já nesta terça-feira, primeiro dia na nova composição do Parlamento de maioria absoluta socialista, com 314 deputados.

Na pauta de Cypel estão duas das prioridades do novo governo de François Hollande, eleito em maio: a educação e a juventude. Mas para este francês naturalizado, outro tema também suscita uma atenção particular, a integração dos imigrantes. Diante do cerco à imigração promovido pelo governo precedente, do conservador Nicolas Sarkozy, o gaúcho criou uma entidade para combater o preconceito contra os franceses de origens estrangeiras, a Français sans distinction ("Franceses sem distinção", em tradução livre).

Para Cypel, a sua própria eleição e a de outros nove socialistas de origem estrangeira foi uma prova a mais para acreditar que a situação dos imigrantes pode melhorar no país. "A França já me aceitava enquanto cidadão, ao me conceder a nacionalidade francesa. Agora, o povo francês me elegeu como representante dele no Parlamento", comentou.

O novo deputado prefere não falar de planos a longo prazo - afirma que está "muito honrado" com a conquista de domingo e vai lutar para ajudar o presidente Hollande a diminuir o desemprego, que atinge 10% da população e 25% dos jovens. Também o retorno ao Brasil não está nos projetos do franco-brasileiro. "Pelo menos não agora que virei deputado aqui", brinca.

Casado com uma paulista, ele se mantém atento aos desdobramentos de Brasília, mas por enquanto pretende trabalhar a serviço do país natal fortalecendo as relações diplomáticas entre a França e o Brasil. "Essa é uma parceria histórica, sólida, e que pode ser reforçada ainda mais. Serei um eterno militante do eixo Brasil-França".