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Apesar de grandes cérebros, América Latina carece de boas universidades

Artigo escrito por Andrés Oppenheimer foi publicado no Miami Herald

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A escolha do venezuelano Rafael Reif para presidir o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT na sigla em inglês) na semana passada, levanta uma questão interessante: por que tantos latino-americanos brilham nas melhores universidades do mundo, mas não em seus países de origem?

Depois de formar-se engenheiro na Universidade de Carabobo, na Venezuela, o primeiro presidente do MIT a não ter o inglês como língua-pátria mudou-se para os EUA, onde fez doutorado em engenharia elétrica na Universidade de Stanford, na Califórnia.

Hoje presidente de uma das mais respeitadas instituições do mundo, ele chefiou os departamentos de micro e nanotecnologia do MIT, tendo patenteado 15 descobertas nestes seguimentos. Detalhe: o venezuelano chegou aos EUA sem falar inglês.

Apesar de ser o maior expoente latino no meio acadêmico americano, Rief não está sozinho. Embora seus conterrâneos sejam minoria quando comparados aos asiáticos, não é difícil encontrar um hermano reitor de universidade nos EUA. Eduardo José Padron, por exemplo, dirige o Miami Dade College.

Ou seja, a América Latina tem o material humano necessário , mas não dispõe de grandes instituições de ensino como as encontradas nos EUA, Europa e Ásia. Prova disso, nenhuma universidade latina consta entre as 150 primeiras no ranking dos melhores centros educacionais do mundo, que tem o MIT na 7ª posição.

Mesmo com as potências econômicas mundiais Brasil e México, respectivamente  6ª e 11ª economias do globo, a primeira instituição latina a constar no ranking do Britain’s Times Higher Education Supplement é a Universidade estadual de São Paulo (USP), que é apontada como a 178ª melhor do mundo.

Diferentemente das melhores instituições do mundo, as universidades latinas controladas pelos Estados escolhem seus reitores dentro de seu corpo docente, através de eleição, onde critérios técnicos são ignorados.

"Os interesses políticos interferem na seleção das lideranças acadêmicas de muitos países latino-americanos", avalia o argentino Isaac Prilleltensky, diretor da Faculdade de Educação da Universidade de Miami. “As grandes instituições escolhem seus líeders através de currículo e merecimento técnico”.

O país de origem de Reif é exemplo claro da interferência política no meio acadêmico. No mesmo dia em que ele foi empossado presidente do MIT, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, teria usado seu poder para influenciar as instituições de ensino que mantém. Segundo o site Lapatilla.com, ele teria escrito carta aos reitores das universidades estatais onde proibiria a contratação de qualquer uma dos 4 milhões de cidadão que assinaram referendo que pedia a revogação do mandato presidencial.

Felizmente, alguns países, como Chile e Brasil adotaram medidas para despolitizar suas universidades, e inseri-las na comunidade acadêmica global. O governo de Dilma Rousseff, por exemplo, incentivará a pós graduação em instituições estrangeiras.