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Silêncio e questionamentos marcam começo do julgamento do 11 de setembro

Réus rezam, citam Gaddafi e advogada manda mulheres da corte cobrirem o corpo

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O começo do julgamento de Khaled Sheikh Mohamed, auto-proclamado mentor dos ataques de 11 de setembro, e seus quatro cúmplices foi marcado pela confusão e tentativas da defesa de invalidar a corte. A sessão acontece num tribunal militar no campo de prisioneiros da Baía de Guantánamo, em Cuba.  

Essa é a segunda tentativa de julgamento dos supostos terroristas. A primeira começou ainda no governo do ex-presidente George Bush, mas Barack Obama interrompeu-a para tentar fazer com que os suspeitos fossem julgados por uma corte civil em Nova Iorque, o que foi vetado pelo Congresso. 

Para James Connell, dos advogados de defesa, esse é apenas o começo de um longo julgamento. 

"Esse julgamento vai demorar anos para terminar e mais alguns anos para a revisão das apelações. Não vejo qualquer cenário no qual isso acabe em alguns meses", disse Connell. 

Silêncio, rezas e negação 

Quando Sheikh Mohammed e os mais quatro suspeitos de envolvimento nos ataques se recusaram a colocar os fones de ouvido para escutar as acusações contra eles, em árabe, o juiz suspendeu a sessão até que um intérprete fosse levado ao local para traduzir o que estava sendo dito para todos os presentes no tribunal. 

Confrontados com a acusação de terem assassinado 2.976 pessoas, Mohamed e seus cúmplices não quiseram se declarar inocentes ou culpados. Eles se mantiveram em silêncio durante a maior parte do primeiro dia do julgamento e interromperam a sessão para rezar. Em determinado momento, um dos acusados gritou e chegou a citar o ex-ditador líbio Muammar Gaddafi. "A Era de Gadaffi acabou, mas vocês têm um Gaddafi em Guantanamo. Eles vão nos matar e dizer para todos que cometemos suicídio" 

Até agora, a estratégia da defesa tem sido a de desqualificar o julgamento. Para os defensores dos terroristas, o fato de o juiz James Pohl ser um militar faz com que um veredicto imparcial seja impossível. Em contrapartida, Pohl alegou que todos os juízes das cortes militares são membros do exército americano. 

Revolta dos familiares e transmissão suspensa

O medo de que os acusados usassem o julgamento para transmitir ordens cifradas para grupos terroristas fez com que os Estados Unidos restringissem ao máximo o acesso à corte. Apenas um pequeno grupo de 60 jornalistas entre os milhares credenciados foram autorizados a cobri-lo, muitos deles apenas pelo circuito interno do exército americano, pela televisão.

O acesso dos familiares das vítimas do 11 de setembro ao julgamento também foi restrito. Apenas representantes de seis famílias foram autorizadas a acompanhar o procedimento em Cuba. Todos os outros assistem ao julgamento de bases militares espalhadas pelos Estados Unidos. 

Mesmo com todo o aparato de segurança, a transmissão foi interrompida em alguns momentos. Há um intervalo de 40 segundos entre os acontecimentos em Guantanamo e a transmissão nas bases militares justamente para que trechos confidenciais ou potencialmente perigosos sejam cortados e não cheguem ao conhecimento de civis. 

Mas nem todas as limitações fizeram com que os familiares diminuíssem sua revolta em relação aos terroristas ou até mesmo aos seus advogados. Em determinado momento, por exemplo, a defensora de um dos réus pediu às mulheres de saia presentes no tribunal militar cobrissem as pernas. Do contrário, os acusados não poderiam olhar para elas, já que estariam pecando. Americana, a advogada Cheryl Bormann usa um traje islâmico conservador para não ferir a fé dos supostos terroristas. 

"Eles são americanos e estão se alistando na Jihad deles", disse o familiar de uma das vítimas ao "Washington Post", em uma das bases militares.

Já no fim da noite, o juiz James Pohl começou a leitura das mais de 80 páginas da denúncia contra Mohamed e seus quatro cúmplices, o que deve durar mais três horas.