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Mesmo com visita de Kofi Annan, bombardeios não cessam na Síria

"Terrorismo impede diálogo", disse o ditador sírio ao emissário internacional

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DAMASCO - O presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou neste sábado ao receber o emissário internacional Kofi Annan que é favorável a qualquer esforço "sincero" para resolver a crise, no momento em que suas forças bombardeavam com extrema violência os rebeldes no noroeste do país.

Enquanto isso, no Cairo, os ministros árabes e russo das Relações Exteriores, que expressam posições divergentes em relação à crise, pediram o fim da violência, de onde quer que venha, no país onde a repressão à revolta deixou milhares de mortos em um ano.

"A Síria está preparada para apoiar qualquer esforço sincero destinado a encontrar uma solução" para a crise, disse Assad a Kofi Annan, segundo a agência oficial Sana.

No entanto, Assad manifestou a Annan a sua convicção de que qualquer tentativa de diálogo fracassará caso seja confirmada a presença de "grupos terroristas" na Síria.

"Nenhum diálogo ou processo político poderá ter êxito se existirem grupos terroristas atuando para semear o caos e a desestabilização, atacando civis e militares", disse Assad ao ex-secretário-geral da ONU.

Desde o início da revolta, em meados de março de 2011, as autoridades atribuem a violência a grupos terroristas, manipulados por agentes externos.

Segundo a Sana, Annan manifestou a sua "recusa à ingerência externa na questões da Síria" e sua "esperança de trabalhar com o governo para lançar um diálogo como parte de um processo político que restabelecerá a estabilidade na Síria".

A missão de Annan, que deve deixar Damasco no domingo após encontros com autoridades governamentais e membros da sociedade civil, tem como prioridades "um cessar-fogo imediato", "uma solução política global" e "um acesso e uma ajuda humanitária", havia indicado o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

No terreno, 36 pessoas foram mortas neste sábado em episódios de violência em todo o país, sendo 27 na região de Idleb, onde morreram 16 rebeldes, sete soldados e quatro civis.

O Exército sírio bombardeou esta cidade defendida ferozmente pelos rebeldes. "Foi um dos bombardeios mais violentos desde o envio de reforços de tropas esta semana a Idleb. É um prelúdio de um começo de ataque", indicou à AFP Rami Abdel Rahman, chefe do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

"O ataque começou às 05h00 da manhã (01h00 de Brasília). Foram bombardeios muito violentos", indicou Milad Fadl, militante local da Comissão Geral da Revolução Síria. "Três prédios já desabaram na rua Thalathin, no oeste da cidade", indicou.

No Cairo, a Rússia e os árabes pediram "o fim da violência, de onde quer que venha", anunciaram à imprensa os ministros qatari e russo das Relações Exteriores, xeque Hamad ben Jassem al-Thani e Serguei Lavrov.

Eles rejeitam qualquer intervenção externa, pedindo o estabelecimento de "um mecanismo de supervisão imparcial" e a autorização da chegada de ajuda humanitária sem entraves, indicou o ministro qatari, que leu um comunicado conjunto. Russos e árabes expressaram seu apoio à missão de Kofi Annan. Antes da reunião, o Qatar havia considerado que um cessar-fogo era insuficiente.

"Há um genocídio sistemático por parte do governo sírio enquanto conversamos neste momento sobre cessar-fogo", declarou o chefe da diplomacia qatari. "Não podemos aceitar apenas um cessar-fogo".

Ele também considerou que é chegado o momento de enviar forças árabes e internacionais na Síria.

O chefe da diplomacia saudita, Saud al-Fayçal, considerou que o veto imposto por Rússia e China a uma resolução da ONU condenando a repressão na Síria havia permitido que o regime desse prosseguimento à violência.

Lavrov insistiu no fato de que seu país não "protegia regime algum". "Protegemos o direito internacional", disse.

A Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, já bloqueou duas resoluções condenando a repressão realizada pelo regime de Bashar al-Assad, postura também adotada pela China.

E Moscou rejeitou um novo texto americano no Conselho de Segurança exigindo do regime o fim "imediato" da violência e pedindo à oposição que "evite qualquer violência" caso o poder aceitasse as exigências dessa resolução.