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Em início de campanha, Chávez parte para o ataque contra seu rival

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CARACAS - Burguês, apátrida e porco: o presidente venezuelano, Hugo Chávez, não economizou palavras fortes para desqualificar seu rival nas eleições presidenciais, Henrique Capriles Radonski, uma estratégia que, segundo analistas, busca provocar um confronto e minar a alternativa opositora.

Nesta semana, Chávez acusou Capriles Radonski, sem mencionar seu nome, de representar a burguesia, o imperialismo e o capitalismo, e de buscar imitar sem êxito com um discurso de inclusão social que tacha de "hipócrita".

Em um discurso explosivo transmitido em cadeia de rádio e televisão, o presidente venezuelano chamou na quinta-feira seu rival de "majunche (pouca coisa) e "cochino" (porco). Capriles triunfou no domingo passado nas primárias organizadas pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática das quais participaram mais de três milhões de pessoas, superando todas as expectativas.

Encher de adjetivos pouco elegantes os seus rivais é um costume para Chávez, de 57 anos, desde que ganhou suas primeiras eleições, em 1998.

"Repete o que no passado deu resultados a ele, levar a oposição para seu terreno; quer transformar a campanha em um torneio entre dois machos criolos, não analisar sua obra de governo", ressaltou o colunista Fausto Masó neste sábado ao jornal El Nacional, crítico em relação ao governo.

Segundo esse analista, "o governo montou uma campanha para desestabilizar Capriles", que até o momento não respondeu às provocações e afirma que ele foi eleito pelos opositores "para resolver os problemas da Venezuela" e não para "brigar".

O candidato opositor "não fugiu do confronto, mas não nos termos que gostaria o lado chavista: lugares comuns, clichês ideológicos, desrespeito, vulgaridade, insulto e violência", ressaltou o especialista em comunicação política, Pablo Antillano.

Capriles, de 39 anos e governador do segundo Estado mais rico e povoado, Miranda (norte), obteve 1,9 milhão de votos nas primárias para designar o candidato opositor que enfrentará Chavez nas eleições de 7 de outubro.

Para o analista Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, o uso de apelidos permite a Chávez, "atacar o adversário sem dar seu nome, caracterizá-lo desrespeitosamente e aproveitar o humor".

Os especialistas consideram que o tom explosivo é uma tática política para tirar o mérito da vitória de Capriles e anular a mensagem do candidato, que promove a "unidade" de todos os venezuelanos para superar a elevada divisão política no país.

"Aqui há duas opções: lá eles, a burguesia e seu projeto contra-revolucionário e apátrida, (...) e aqui estamos nós, nosso projeto é a pátria", disse Chávez, assegurando que, se a oposição chegar ao poder será uma "garantia de guerra e de violência".

Para León, Chávez explora o medo e o caos e envia aos eleitores a mensagem de que votar contra ele equivale a perder duas coisas: os programas sociais governamentais e a paz do país.

"A parte mais perigosa para Chávez do discurso Capriles é a da unidade nacional, da integração e do respeito", o que faz o mandatário "disparar tudo o que puder para provocar" o confronto, afirmou esse especialista. Após o seu triunfo nas primárias, os disparos contra o governador também não cederam por parte da imprensa estatal.

Um programa da rede de televisão estatal VTV repercutiu uma acusação -extraída de um suposto registro policial- contra o candidato por praticar "sexo oral" em um carro com um homem.

Além disso, um artigo no site da Rádio Nacional da Venezuela falou que Capriles Radonski, um descendente de judeus poloneses que escaparam dos nazistas, de estar ligado à "burguesia sionista e pertencer a uma "seita paramilitar e fascista".

Em resposta, o centro judaico Simon Wiesenthal, pediu a Chávez que "intervenha pessoalmente contra esses ataques antissemitas", e assegurou que não fazê-lo "representaria um estímulo ao racismo", segundo um comunicado.

Para o sociólogo Ignacio Ávalos, Chávez, que se autodenomina "radicalmente de esquerda", busca também evitar perder sua liderança na luta social que permitiu sua ascensão ao poder há 13 anos, ante à crise dos velhos partidos. Chávez "lembra o tempo todo a Capriles que o discurso social é chavista", disse Ávalos à AFP.

Segundo o escritório de consultoria 21, o apoio a Chávez aumenta na classe de maior pobreza, mas perde terreno em todos os demais os setores, enquanto Capriles cresce em todas as categorias.