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De passagem pelo Brasil, noruegueses relatam drama: "País nunca mais será o mesmo"

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Os 4,9 milhões de habitantes da Noruega estão acostumados a viver em uma sociedade justa, segura, democrática e aberta. Mas será que o recente atentado, no qual mais de 90 pessoas morreram, mudará a vida dos cidadãos? Para o economista Dagfinn Ringas, de 37 anos, que está no Brasil para participar de uma festa de casamento, a mudança dos hábitos pode significar uma  vitória do medo e dos atos inconsequentes de Anders Behring Breivik, autor do massacre.

“Vivemos em uma sociedade tão aberta que acho que as pessoas se recusariam a se fechar completamente em nome da segurança, com portões trancados e armas em punho. Não adianta ter toda a segurança do mundo quando se fala de um maluco como este. É uma coisa que não dá para se proteger, pois não conseguimos prever”, opina. 

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Ele cita o antropólogo norueguês Thomas Hylland que, em uma de suas tardes assistindo preocupado aos noticiários, o ouviu dizer “muito inteligentemente”, que a vulnerabilidade desta tragédia pode ser melhor comparada a um desastre natural, tamanha a sua imprevisibilidade. Apesar de aflito e abalado, ele não tem medo de voltar ao país, que, em sua opinião, vai se unir ainda mais depois destas mortes.

“Somos um país pequeno, e com certeza alguém vai conhecer uma vítima, ou a família de uma das vítimas. Este tipo de fanatismo não é comum por lá e por isso acredito que não vá se repetir. A Noruega nunca mais será a mesma, isso vai mudar nosso país para sempre, mas espero que não mude nossa forma de viver”, diz.

A brasileira Cássia Ringas, que mora há seis anos na Noruega e é casada com Dagfinn, lembra que uma prima da família é amiga de uma sobrevivente do massacre.

“Ela se salvou porque fugiu nadando. Foi realmente lamentável, mas não podemos estender este medo para nossa vida cotidiana. Não tenho vontade de voltar para o Brasil exatamente pela segurança que tenho lá. A conclusão que chegamos é que nenhum  país está imune da ação desses loucos e também espero que as pessoas não fiquem neuróticas, com medo que isso  vá se repetir”, afirma ela, que é gerente de contratos em uma empresa petrolífera. 

A contadora Sirjie Surdal não mora em Oslo, mas ficou sabendo dos ataques pelo noticiário. Ela diz que, depois do atentado de 11 de setembro, nos EUA, o país se preparou melhor para o caso de sofrer uma ação terrorista, mas uma tragédia dessas não poderia ser imaginada. 

“O choque foi geral e claro que agora teremos que ficar um pouco mais alertas, pois temos que pensar que isso talvez possa acontecer novamente, embora eu ache que isso seja muito difícil. Temos que ser mais cuidadosos e nos proteger de formas diferentes”, diz.

Perguntada sobre o que deveria acontecer com o atirador, Sirjie tem sua opinião: pegar a pena máxima do país, que é de 21 anos de prisão.

“Vinte e um anos é pouco para uma pessoa dessas, mas na Noruega temos um sistema de regime aberto onde a pessoa é monitorada de perto. Ele pode não ficar na prisão pelo resto da vida, mas vai ter seus passos observados de perto até o fim de seus dias”, explica. 

O caso

Os ataques que aconteceram na Noruega na última sexta-feira foram a maior tragédia no país desde a Segunda Guerra Mundial. Em uma tarde aleatória de verão, duas ações coordenadas aparentemente pelo mesmo homem mataram 68 pessoas no pequeno país nórdico: a explosão de um carro-bomba no centro de Oslo, capital, onde ficam os prédios do governo, e um tiroteio em uma ilha próxima, Utoeya, onde acontecia o tradicional acampamento anual da juventude do Partido Trabalhista. 

O autor dos atentados assumiu a culpa, negou ter agido em grupo e afirmou que a ação foi cruel, porém necessária.  Anders Behring Breivik, de ideologia de extrema direita, teve bastante tempo para planejar os ataques. Em 2009, publicou um manifesto na internet contendo injúrias islamofóbicas e antimarxistas, onde destacou "o uso do terrorismo como um meio de despertar as massas". Em um pequeno trecho entre as 1.500 páginas, ele diz: "Serei visto como o maior monstro (nazista) desde a Segunda Guerra Mundial”.  

Anders ainda presta explicações à polícia, mas sejam quais forem suas motivações, seus atos chocaram o país aparentemente seguro com um crime sem precedentes. Menina dos olhos da Europa, além de ter sido considerada pela ONU como o melhor país do mundo para se viver (2009) e como o país mais pacífico do mundo pelo Índice Global da Paz (2007), a Noruega é também o país que mais oferece ajuda humanitária no mundo.