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Países emergentes defendem reforma na ONU e no sistema monetário

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PEQUIM - Os grandes países emergentes criticaram nesta quinta-feira o uso da força na Líbia e a especulação sobre suas moedas, em uma reunião de cúpula na ilha chinesa de Hainan na qual ressaltaram o desejo de atuar como personagens de peso ante as potências ocidentais debilitadas pela crise.

"Compartilhamos o princípio de que o uso da força deveria ser evitado", destacam os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no comunicado final, no qual expressam "profunda" preocupação com as "turbulências" no Oriente Médio e no norte e oeste da África.

Os emergentes pedem o respeito da "independência, soberania, unidade e integridade territorial de cada nação", destacam o desejo de prosseguir cooperando sobre a questão da Líbia com o Conselho de Segurança e apoiam a proposta da União Africana (UA) de estabelecer negociações entre o regime de Muamar Kadhafi e os rebeldes.

Dos países dos BRICS, apenas a África do Sul aprovou a resolução que autorizou os bombardeios contra as tropas de Kadhafi, executados por uma coalizão liderada por Estados unidos, França e Grã-Bretanha. Os outros quatro - em particular China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - optaram pela abstenção.

O presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que a resolução da ONU sobre a Líbia não autorizava os bombardeios e destacou que os cinco países emergentes dos BRICS compartilham a opinião.

"As resoluções do Conselho de Segurança deveriam ser aplicadas ao pé da letra e seguir seu espírito", declarou Medvedev após a reunião de cúpula dos BRICS. "Sobre este tema os países dos BRICS estão totalmente unidos", afirmou, apesar do voto da África do Sul.

"Os BRICS não estão contra nenhum outro grupo de países e sua agenda não se define por oposição a nenhuma outra agenda. Queremos agregar", afirmou a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, diante dos colegas Hu Jintao (China), Dmitri Medvedev (Rússia), Jacob Zuma (Sudáfrica) e do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh.

"Devemos favorecer o diálogo e a diplomacia", insistiu Dilma Rousseff, que participou pela primeira vez em uma reunião deste grupo de países desde que assumiu a presidência em janeiro.

Os BRICS advertiram também para os riscos dos grandes fluxos internacionais de capital que desafiam atualmente as economias emergentes.

Os países emergentes, com economias prósperas e taxas de juros elevadas, se transformaram em ímãs para capitais que buscam uma rentabilidade maior que a dos países ricos, que reduziram as taxas de juros a valores mínimos para sair da recessão.

A situação afeta de maneira particular o Brasil, que tem um sistema cambial flexível, enquanto a China, o maior exportador do mundo, se protege do fenômeno com um controle rígido de sua moeda desvalorizada, o yuan, em relação ao dólar.

Os BRICS - com 40% da população e 18% do PIB mundial - se transformaram em motores da recuperação - garantem 40% do crescimento - e reclamam mais espaço nos organismos internacionais surgidos após a Segunda Guerra Mundial, dominados por países que atualmente enfrentam a recessão e dívidas gigantescas.

Reformas no Conselho de Segurança da ONU, no FMI e no Banco Mundial permitiriam que estas instituições fossem "mais efetivas, eficientes e representativas", destacam os BRICS.

Esta fórmula permitiu um consenso entre as posições de Brasil, Índia e África do Sul, que aspiram uma cadeira permanente no Conselho de Segurança, as de Rússia e sobretudo China, pouco favorável a ceder o poder.

Sem um compromisso efetivo, China e Rússia "reiteraram a importância do status de Brasil, Índia e África do Sul nos assuntos internacionais". Também afirmam compreender e apoiar as aspirações destes países a desempenhar um papel maior nas Naçõess Unidas".

Os BRICS advertiram ainda que "a excessiva volatilidade dos preços das commodities, em particular dos alimentos e energia, representa novos riscos para a recuperação em curso da economia mundial".

Também defenderam que as grandes economias reforcem a coordenação das políticas macroeconômicas e manifestaram apoio ao papel do G20 na gobernança econômica e financeira do planeta.

Esta foi a terceira reunião de cúpula dos grandes países emergentes. As duas primeiras aconteceram em Ekaterimburgo (Rússia) em 2009 e em Brasília em abril de 2010. A Índia será a anfitriã da quarta, em 2012.

O termo BRIC - criado em 2001 pelo economista do Goldman Sachs Jim O'Neill - ganhou popularidade após a crise mundial que explodiu em 2008.