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"Ali Químico", primo de Saddam, é condenado à forca no Iraque

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REUTERS

BAGDÁ - O primo de Saddam Hussein conhecido como "Ali Químico" foi condenado neste domingo à morte na forca por ter planejado genocídio contra curdos do Iraque nos anos 1980, informou uma corte iraquiana.

Ali Hassan al-Majeed, aparentando cansaço e vestido com uma tradicional bata árabe, tremeu quando o juiz leu o veredito, disse uma testemunha.

Majeed, cujo nome provocava temor entre os iraquianos, dirigiu uma campanha militar contra os curdos do norte em que foram usadas diversas armas químicas. Aldeias foram demolidas, campos agrícolas destruídos e dezenas de milhares de pessoas foram mortas.

A corte condenou também à morte o ministro da defesa de Saddam, Sultan Hashim, e um ex-comandante militar pela participação na campanha. Outros dois comandantes receberam penas de prisão perpétua. As acusações contra o ex-governador de Mosul foram retiradas.

Saddam era o sétimo réu, até sua execução, em dezembro, em outro julgamento por crimes contra a humanidade.

Os curdos vinham buscando justiça pela campanha Anfal ("Espólios de Guerra"), que deixou marcas em sua região montanhosa. Promotores dizem que até 180.000 pessoas foram mortas nos sete meses de operação em 1988.

"Logo que ouvi que Ali Hassan al-Majeed e Sultan Hashim receberam penas de morte fiquei alegre e comecei a gritar. Mas a maior alegria será ver Majeed sendo executado no Curdistão", disse o funcionário público Shaheen Mahmoud, na cidade de Sulaimaniya, no norte do Iraque.

Majeed era visto como o principal comandante de Saddam. Ele ganhou fama pela brutalidade e teve papel importante na repressão de uma rebelião xiita no sul, depois da Guerra do Golfo de 1991.

Durante a campanha Anfal, milhares de aldeias foram declaradas "áreas proibidas", bombardeadas e destruídas. Milhares de pessoas foram deportadas e executadas.

Foram usados nas vilas gás mostarda e outras armas que atacam os nervos, o que deu a Majeed o apelido de "Ali Químico". Muitos dos mortos nos ataques com gases venenosos eram mulheres e crianças.

- Você deu ordens para as tropas usarem todas as armas, incluindo armas químicas que mataram milhares, desabrigaram milhares e deteve muitos outros que morreram depois de fome, em torturas e de doenças. Muitos desapareceram, disse o juiz Mohammed al-Uraibi a Majeed.

- Você cometeu crimes contra a humanidade...Você cometeu genocídio. Há documentos suficientes contra você.

Majeed, que tem mais de 60 anos, admitiu durante o julgamento que mandou as tropas executarem curdos que ignoraram ordens de abandonar aldeias, mas não para usarem gás venenoso.

Os acusados disseram que a operação tinha alvos militares legítimos, como guerrilheiros curdos que aliaram-se ao Irã durante a última fase da guerra Irã-Iraque (1980 a 1988).

- Defendemos o Iraque e não somos criminosos, disse Hussein Rashid, ex-comandante de operações do exército iraquiano, interrompendo o juiz durante a leitura da sentença. Ele também foi condenado à morte.

Historiadores dizem que Saddam queria usar os curdos, que formam 20 por cento da população, como exemplo para deter os oponentes de seu regime e mostrar o que aconteceria se desafiassem sua autoridade.

Grupos internacionais de direitos humanos dizem que o julgamento de Anfal foi marcado por erros de procedimento e interferência política -- o governo trocou o principal juiz depois que ele fez declarações entendidas como favorecimento aos réus.