ASSINE
search button

Bilionário dono de iate defende folga do amigo Sarkozy

Compartilhar

REUTERS

PARIS - O bilionário empresário francês que emprestou seu iate para Nicolas Sarkozy rejeitou na sexta-feira acusações de que sua amizade com o futuro presidente do país possa resultar em favores especiais às suas empresas.

Após a eleição de domingo, Sarkozy foi descansar na costa de Malta a bordo de um luxuoso barco de 70 metros que pertence a Vincent Bolloré, maior acionista do grupo publicitário Havas, que tem participação também em uma rede de empresas financeiras e industriais.

Líderes oposicionistas viram na viagem um sinal de que o presidente eleito está em descompasso com as pessoas comuns e próximo demais das grandes empresas.

Bolloré disse que não espera tratamento favorável ao seu grupo em troca da viagem grátis.

- Só porque você é amigo de alguém não significa que não haja ética no relacionamento, disse ele em entrevista publicada na sexta-feira pelo jornal Le Parisien.

Bolloré diz que seu grupo não tem vínculos comerciais com o Estado francês, mas o jornal Le Monde citou documentos oficiais mostrando vários contratos com o governo, sendo um deles para a entrega de documentos diplomáticos.

Foi citado também um contrato de 342.329 euros (461,2 mil dólares) obtido pelo grupo Bolloré para trabalhar na sede da polícia na cidade de Grenoble, concedido em dezembro de 2006 pelo ministério do Interior, cujo titular na época era Sarkozy.

Na entrevista ao Parisien, Bolloré disse:

- Somos um grupo francês por excelência que é totalmente independente do Estado. Não temos contrato com o poder público.

Ele lembrou ainda que Leon Blum, primeiro socialista a ser primeiro-ministro da França, se hospedou numa mansão dos Bolloré após a Segunda Guerra Mundial.

Embora a folga de 48 horas de Sarkozy tenha repercutido muito na imprensa, uma pesquisa publicada na quinta-feira mostrou que 58 por cento das pessoas não se incomodaram.

O próprio Sarkozy se recusou a pedir desculpas, dizendo que a viagem ocorreu após uma longa campanha eleitoral e não custou nada aos contribuintes.

Nem todos estão convencidos disso.

- Conhecendo os setores de atividade do grupo Bolloré, em particular comunicação/mídia e distribuição de energia, pergunta-se como Nicolas Sarkozy poderia ter um programa político independente, escreveu o jornal esquerdista Libération.

Já o magnata e ex-simpatizante socialista Bernard Tapie saiu em defesa de Sarkozy.

- Ele ainda não é presidente. É como seu 'último grito'. É um assunto totalmente particular, disse Tapie, segundo quem 'três quartos (dos que criticam Sarkozy) estiveram há não muito tempo no meu iate 'Phocea', e na época não acharam isso vulgar ou fora de lugar.'

Tapie fez fama e fortuna salvando empresas quebradas nas décadas de 1970 e 1980. Chegou a ser ministro em um governo socialista, mas sua carreira caiu em desgraça em 1997, devido a condenações por manipulação de resultados do futebol -- ele era dirigente do Olympique de Marselha -- e fraude fiscal.